O recurso às urgências é, para a maior parte dos portugueses "normais" - aqueles para quem um seguro de saúde e as suas benesses são uma miragem -, a verdadeira forma de conseguir ser atendido por um médico, quando os centros de saúde parecem muitas vezes ser mais um centro de burocracia.
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É verdade que o Serviço Nacional de Saúde é uma grande conquista dos portugueses e aqueles que passam pela experiência de tentar conseguir assistência médica em alguns países estrangeiros - e até mesmo da Europa - sabem-no bem. Mas há ainda um longo caminho a percorrer. Uma boa parte desse caminho depende do dinheiro! É aquela promessa constante que ouvimos dos responsáveis políticos: o aumento do financiamento do SNS.
Mas há uma outra parte cuja solução passa, única e exclusivamente, pelo cuidado no relacionamento pessoal! Por aquela ideia, quase mítica, de que os serviços públicos existem com o objetivo de servir os cidadãos e deles devem cuidar. Por aquela parte das nossas vidas que fica incomodada quando uma idosa é atendida quase aos berros pela funcionária do centro de saúde, mesmo perante a explicação de que está ali seguindo a indicação recebida no hospital e a única resposta que ouve é a de que os médicos do hospital não mandam ali. Ou, outro exemplo, o do médico que a primeira resposta que dá ao doente é de que aquela consulta - marcada pelo próprio centro de saúde após várias semanas de tentativas frustradas - se destina a outro tipo de doenças!
Quantos dos nossos problemas de acesso à saúde seriam resolvidos apenas com um pouco de cordialidade entre os intervenientes? Nem todos os problemas se resolvem com dinheiro! Para alguns basta apenas um pouco de humanidade e a noção de que serviço público não é apenas um balcão para atender pessoas mas, sim, um serviço que todos nós prestamos a nós próprios, o público. E temos direito a tê-lo, com cordialidade e educação!
*Editor-executivo-adjunto