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Passadas as eleições legislativas, os resultados são sujeitos a inúmeras interpretações e leituras. Explicam-se as percentagens, a descida da abstenção, os votos de protesto e as confusões de que ninguém se lembrou em devido tempo. Falta apenas saber se no futuro que agora começa saberemos corrigir tudo o que é apontado como a principal explicação dos resultados e até o “medo” que estes trazem consigo.
Em primeiro lugar, o eterno “descrédito” dos partidos tradicionais. Continuaremos a ter partidos voltados para o interior, presos pelas suas próprias máquinas e incapazes de olhar e responder às necessidades dos cidadãos?
Em segundo lugar, o crescente abandono de grande parte do país, sobretudo das zonas mais pobres do Interior, esquecido em favor de polos urbanos centralistas cada vez mais fechados em si mesmos e incapazes de olhar à sua volta.
Na verdade, nem é uma questão de Esquerda ou de Direita. É sobretudo saber olhar para o passado e perceber o caminho difícil que nos trouxe de um país pobre e atrasado, com uma população em grande parte analfabeta e presa a uma vida miserável na indústria obsoleta ou na agricultura de sobrevivência. Um caminho difícil que nos deu um sistema de saúde (cheio de falhas, é certo) imensamente melhor do que aquele que dependia do dinheiro da família, de beneméritos ou de instituições de previdência. Um caminho que permitiu que tenhamos acesso a educação, literatura, informação e música sem que alguém decida o que podemos ou não fazer.
E aqui chegados não há responsabilidade exclusiva da Esquerda ou da Direita política. Há um trabalho conjunto e um percurso com um denominador comum: o respeito pela democracia.
O problema é que todos falhamos, uns porque não souberam aprender com o passado e outros porque não foram capazes de transmitir o que significam as conquistas sociais (e também políticas) que alcançamos após 1974 e o preço que pagamos para as conseguir.