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A multiplicação de protestos das forças de segurança e os primeiros sinais de que esse movimento poderia alastrar aos militares representam uma reclamação justa face a décadas de fraco investimento que resultaram em condições medíocres de trabalho, salários indignos e meios obsoletos ou até inexistentes. Esquadras sem o mínimo de condições, carros velhos sem combustível e com pneus carecas juntam-se a ordenados que há muito deixaram de ser suficientemente atrativos. Nas forças armadas, o panorama é idêntico, com um desinvestimento cíclico apoiado numa visão europeia que deixou de dar importância à política de defesa, assumida como um dado adquirido.
Cada vez mais tomamos consciência de que nem a segurança do nosso dia a dia nem a das nossas fronteiras se mantém sem trabalho e investimento. Para termos de volta a tranquilidade que desejamos temos de criar instalações funcionais, comprar carros novos e pagar ordenados dignos aos polícias. Na defesa, a questão é a mesma: aviões, carros de combate e submarinos não são brinquedos nas mãos de alguns, mas instrumentos com uma utilidade fundamental nos regimes democráticos.
Mas tudo isto não basta! Uma democracia não é feita de equipamentos e salários. É, acima de tudo, feita de princípios. De que não podemos prescindir.
Ao darmos como adquirida a democracia em que vivemos e os direitos de que gozamos a todo o momento, muitas vezes esquecemos o caminho para aí chegar e o papel que cada setor tem na sociedade em que vivemos. Os agentes das forças de segurança e os militares das forças armadas têm funções específicas e, por isso, assumem limitações nos seus direitos em nome de todos.
Quando surgem ameaças de que essas limitações podem ser ultrapassadas - como é o caso das “falsas greves” na Polícia ou ameaças de protestos na rua por parte de militares - é hora de parar.
Ultrapassar essa linha em nome de reivindicações profissionais, por muito justo que possa parecer aos olhos de quem enfrenta os problemas, é, na verdade, um ataque às bases da sociedade democrática em que vivemos e demonstra, provavelmente, que quem as protagoniza não tem a mínima noção do papel que exerce e da sua importância.