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Os indicadores de pobreza em Portugal não estão nada famosos! É verdade que até mostram uma ligeira redução, mas o panorama que surge quando a análise é feita mais a fundo é bem mais negro.
A “crise” na habitação - se é que lhe podemos chamar assim, já que, em rigor, se trata de uma questão centrada no acesso - pode ajudar a complicar uma situação que é já vista por todos como crítica.
Por outro lado, os sucessivos problemas que surgem nas empresas (veja-se o crescimento das insolvências de indústrias ligadas ao setor automóvel ou das indústrias transformadoras) colocam mais nuvens negras num horizonte que pensávamos ser limpo de obstáculos.
A verdade é que continuamente recebemos indicadores antagónicos: a venda de casas está em alta, o mesmo acontece com a comercialização de automóveis de luxo, mas simultaneamente mantemos salários muito baixos em vários setores da economia.
Há alguns dias, Isabel Jonet (que lidera a federação dos bancos alimentares) fez uma boa síntese: “Os níveis [de pobreza] não estão a aumentar, mas também não estão a diminuir”.
A bolha de crescimento e de modernização a que nos habituamos e em que acreditamos viver - uma espécie de guarda-chuva europeu que nos mantinha acima da pobreza extrema -, não existe de facto! E os indicadores estatísticos, enviesados por estes desequilíbrios, escondem a verdadeira situação de muitos portugueses.
E se, até aqui, o impulso da economia mantinha esta parcela da população relativamente escondida, alguns sinais que vão surgindo deviam começar a fazer soar os alarmes. Porque pode não faltar assim tanto para a pobreza começar a bater a portas que não a esperavam.