A sociedade portuguesa está cada vez mais fraturada. Uma divisão extensível a várias áreas, mas que assume um caráter mais vincado ao nível político.
Corpo do artigo
Tal como se verifica de forma mais extremada no Brasil ou nos Estados Unidos, Portugal sofre hoje cada vez mais esta separação entre os cidadãos. Até há alguns anos, era frequente os analistas políticos compararem o crescimento dos extremismos noutros países da Europa com Portugal e, invariavelmente, acabarem a concluir que os portugueses eram mais contidos e, até, incapazes de se deixarem contagiar por tais movimentos. Éramos - escrevia-se quase sempre - um povo incapaz de se deixar levar por tais ideais. O peso dos partidos do centro era dominante e tudo o que aparentasse fugir a essa lógica era distante ou até impossível.
Mas eis que, nos últimos anos, assiste-se a uma reviravolta nesta "tradicional" tranquilidade lusitana e hoje já não nos impedimos de assumir posições extremadas. Os partidos que se mostravam incapazes de vingar ganham cada vez mais apoiantes e já não parece tão distante que os setores mais ponderados continuem a perder terreno. A forma como o Brasil se partiu entre contestatários e apoiantes de Jair Bolsonaro é exemplo de um cenário que está também cada vez mais próximo de nós. Basta lembrar como, em plena pandemia da covid-19, todos nos deixamos envolver na divisão causada pelas restrições impostas e que chegou a transformar muitos de nós em vigilantes, de dedo em riste e sempre prontos a chamar a Polícia perante algum prevaricador. Ou ainda lembrar como estamos prontos a aceitar, quase sem pestanejar, restrições à nossa liberdade em nome de uma vigilância cuja necessidade é apenas baseada em sensações e cenários que nos são vendidos como verdadeiros. Estamos tão longe daquele pequeno país tranquilo que olhava de fora para os extremismos de outras partes do globo.
Editor-executivo-adjunto