Exatamente três meses depois de serem diagnosticados os primeiros casos do novo coronavírus em Portugal, continuamos sem vislumbrar a data para matar a maior fome que esta pandemia nos trouxe: o toque e a proximidade em relação aos outros.
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A grande sondagem que hoje publicamos traduz em números um impacto gigantesco que já adivinhávamos. A vontade de proteger quem mais amamos fez com que a covid-19 nos levasse a abdicar dos cumprimentos não apenas fora de casa, mas também dentro de portas, com a família mais próxima.
É difícil sintetizar os efeitos de uma crise devastadora como a que vivemos. Que põe a nu os investimentos necessários em saúde pública, ciência e tecnologia, mas ao mesmo tempo nos questiona sobre as desigualdades sociais. Desigualdades que se revelam e acentuam no acesso ao teletrabalho, nas condições para o ensino à distância, na perda de rendimentos, na exposição diferenciada ao risco de contrair a doença. A covid-19 é universal no alcance, mas nem todos estamos igualmente apetrechados para resistir ao rasto deixado pela crise sanitária.
Ainda que sejam tão vastos os efeitos, da saúde à economia, não é um acaso termos escolhido os afetos para centro deste editorial. Ao celebrar 132 anos de uma existência recheada de projetos, mudanças, conquistas e dificuldades, o "Jornal de Notícias" reafirma a proximidade em relação às pessoas e territórios como marca de identidade. E se algo estes meses de confinamento nos demonstraram, foi a importância de um jornalismo comprometido com as populações, que é colocado frente a frente com as suas responsabilidades coletivas.
Não somos imunes à crise e aos seus efeitos no setor. Pelo contrário, sentimos na pele a retração económica causada pelo confinamento. Mas sabemos a importância da informação e as mensagens que os leitores nos fizeram chegar dia após dia. Histórias de quem tinha medo de sair à rua, mas continuava a fazê-lo para ir buscar o JN. De quem nos telefonava a perguntar que universidades já tinham fechado, o que se podia ou não fazer fora de casa, de quem via no jornal um canal de referência para esclarecer as dúvidas que o momento trouxe de assalto.
É possível que o medo nos torne excessivamente desconfiados, ou que nos leve a abrir a porta a novas formas de vigilância das pessoas e dos contactos. Ninguém tem respostas firmes quanto ao que o futuro nos reserva. Mas sabemos que qualquer crise sanitária ou económica só poderá ser ultrapassada colocando as pessoas no centro das estratégias. Sem mudar aquilo que nos torna humanos, seres de ligação e toque. Por nós, continuaremos a trilhar no JN o caminho destes 132 anos. Consigo. Por si.
A Direção