Desentendimentos entre a Real Irmandade de Nossa Senhora da Quietação e o padre António Borges, na Igreja das Flamengas, em Lisboa, acabaram em agressões entre fiéis e pároco, esta segunda-feira. A contenda obrigou a intervenção policial e as idosas acabaram a rezar o terço na rua.
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O capelão diz que apenas perguntou à associação de fiéis católicos o que ia fazer naquela noite e que os representantes se recusaram a responder. A Irmandade defende que esta igreja, sob a qual tem responsabilidade pois gere o seu património material, não é do Patriarcado e não têm de dar conhecimento ao pároco das suas atividades.
Eunice Costa, presidente da direção da Real Irmandade, conta que os fiéis se preparavam para rezar o terço, como acontece todas as segundas-feiras, quando o padre pediu as chaves do sacrário ao Juiz da Irmandade.
"Ele disse que não ia dar as chaves e o padre dá-lhe um encontrão e começa a pancadaria. Tentei separá-los, mas não consegui. Peguei num círio (vela com 40 centímetros) e disse que lhe dava com ele, mas como padre largou o Juiz não dei", conta Eunice, que chamou a polícia.
Senhoras com 80 anos ficaram duas horas e meia ao frio a rezar
Segundo Eunice Costa, o padre António Borges, assim que viu os agentes, expulsou os fiéis para fora da igreja. "Disse que não queria homens com pistola lá dentro e que tinha ordens do patriarcado para fechar a igreja. Senhoras com 80 anos ficaram duas horas e meia ao frio a rezar", critica Eunice. O pároco admite que sugeriu aos fiéis rezarem no hall de entrada da igreja, pois "após uma agressão não poderia haver culto dentro", mas tem outra versão quanto ao resto.
"Perguntei porque é que a capela estava aberta e se tinham autorização para aquele momento celebrativo. Foi aí que o juiz da Irmandade veio na minha direção, empurra-me e começa a agredir-me. Levei três bofetadas e atiraram-me os óculos ao chão e a Eunice pegou numa vela e atingiu-me num braço", conta o padre, que também já fez queixa à polícia.
O pároco apela ao diálogo com a Irmandade e garante que "todos os atos de culto devem ser do conhecimento do capelão, pois é responsável pelo zelo da igreja", mas a Irmandade tem um entendimento diferente.
Irmandade pondera fazer chegar caso ao Vaticano
A igreja está entregue a nós desde 1889, somos a única Irmandade em Portugal que tem uma igreja ao seu cuidado. Quem tem tutela é o Estado, não o Patriarcado", assegura Eunice.
A presidente da direção da Real Irmandade conclui as acusações, afirmando que proibir a entrada na igreja "é um crime eclesiástico". Acrescenta ainda que também apresentou queixa na PSP e pondera avançar para tribunal e encaminhar o caso para a Nunciatura Apostólica e o Vaticano.