Especialistas apontam problemas de infiltração e corrosão das armaduras. Defendem que reabilitação deve manter imagem do equipamento e garantir diferentes usos.
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É pista de treinos de atletas medalhadas, campo de jogos das campeãs de futebol feminino ou até ginásio para centenas de idosos. Inaugurado a 28 de maio de 1950, o Estádio 1.º de Maio, em Braga, continua cheio de vida, mas em contraste com o relvado e pista bem cuidados, há paredes tingidas de verde devido às infiltrações, armaduras corroídas, bancadas que já não cumprem a lei das acessibilidades. A Câmara recusou o projeto de reabilitação do S.C. Braga por entender que o projeto do clube "não salvaguarda o edifício". Os especialistas concordam que a imagem do monumento deve ser preservada. Ali, dizem, falta pouco mais do que criar condições de segurança.
"Toda a parte inferior do estádio, das bocas de acesso até ao campo, está assente sobre o solo e não há corrosão. Poderá precisar de limpeza e melhoramento do aspeto do granito, mais nada do que isso. Na parte superior, a estrutura está suportada em betão e há situações muito dispares", descreve o engenheiro Luís Vaz, que acompanhou, durante um ano e meio, a equipa da Universidade do Minho na elaboração de um relatório exaustivo sobre as patologias do equipamento.
Atualmente, há duas áreas da bancada, assentes em betão, que foram interditas ao público. Mas o arquiteto Vítor Carvalho, do gabinete de projetos da Câmara, descansa quem frequenta o estádio. "Em termos de utilização, a área de jogo não está comprometida. O risco que existe está em determinadas áreas do edifício que estão sem utilização", sublinha. Entre os exemplos está uma antiga arrecadação, onde se veem vigas ao alto, paredes esverdeadas e degradadas. "Um dos grandes problemas do estádio são as infiltrações na zona das bancadas que passam para o interior e afetam todos os elementos estruturais", relata Vítor Carvalho, defensor da preservação do estádio "com a imagem que se encontra neste momento".
Acautelar a memória
Monumento de interesse público, o arquiteto fala de "uma peça fundamental" e "referência de toda a área envolvente". Na reabilitação do património, garante, "muitas vezes, o que tem que ser acautelado é a memória das pessoas". Fala da arquitetura, mas também dos diferentes usos. É no 1.º de Maio que funcionam os programas municipais Braga Ativa, a Marcha e Corrida, o Pulsar e o projeto de combate à obesidade. Prática de atletismo, escalada e futebol feminino, também, ali acontecem. O estádio é, ainda, sede de associações desportivas.
Dez milhões para obras
"Os cidadãos têm uma ligação afetiva a este estádio. Sentem que há muitos anos podem usufruir dele livremente e da forma que mais gostam. Isso é uma questão muito importante na reabilitação", atesta João Correia, adjunto da vereadora do Desporto, Sameiro Araújo.
Num projeto de recuperação desta dimensão, Vítor Carvalho entende que a principal preocupação deverá concentrar-se em questões como "a estrutura, acessibilidades, segurança contra incêndios e evacuação de espectadores".
O caderno de encargos já está em marcha e, segundo o presidente da Câmara, Ricardo Rio, a obra não deverá custar menos de 10 milhões de euros.