Café no Centro Histórico de Braga resiste ao tempo e adapta-se aos gostos dos clientes, mas mantém mobiliário desde a abertura, em 1907.
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"Antes, recebíamos os padres e os médicos. Agora, A Brasileira é o café do povo". Francisco Marques sabe bem do que fala. Há 34 anos que o bracarense domina a bandeja como empregado de mesa num dos mais antigos cafés da cidade. O estabelecimento no Largo Barão de São Martinho, em pleno Centro Histórico, está a comemorar 115 anos e já não é só das elites. É de todos os que querem entrar.
Elvira Pinheiro, uma das sócias do café, diz que "todos os quadrantes da sociedade" cabem no prédio de quatro andares e traça facilmente o perfil dos clientes, que recebem no dia a dia. "De manhã, vem um público com idade mais avançada. À tarde, temos as professoras reformadas, na casa dos 50 anos. À noite, vem a juventude", descreve a empresária, que gere A Brasileira com mais três irmãos.
Foi o pai, Armindo Pinheiro, que lançou o desafio aos filhos, em 2004, quando adquiriu o imóvel. "Nenhum de nós era do ramo, à exceção do meu irmão, mas aceitámos. Eu sou de Direito e as minhas irmãs de Gestão e Administração Pública, que não tem nada a ver", elucida Elvira, sublinhando que pegaram numa casa centenária, que precisava de se modernizar, quer ao nível das infraestruturas, quer da oferta.
"Quando vim para cá, A Brasileira vendia cerveja, Coca-Cola, sumo e café. Se pedissem um copo de água, o senhor Cândido dizia para irem ao chafariz. Não sei até como vendiam o mazagrã, não havia uma máquina de gelo", conta a gerente, lembrando que, em 2009, após as obras de restauro, o espaço começou a acompanhar os novos tempos. O restaurante, no primeiro piso, foi uma das inovações. O menu também se renovou com outras propostas, "como cocktails", exemplifica Elvira.
O café começou a responder "a outro tipo de desejos dos clientes", mas há coisas que a família não abdicou. Elvira mostra as mesas que permanecem desde 1907 ou os quadros do antigo salão de jogos, com data de 1930. No rés do chão, a responsável diz que "o senhor Raul ainda pode engraxar os sapatos", mas o que a deixa mais orgulhosa é poder ver "as relações humanas que se criam" dentro daquelas portas. "Há uma relação muito próxima entre clientes e funcionários. É bom de se ver", sublinha.
Francisco Marques corrobora as palavras. "Conhecemos os pais, os filhos e os netos", afirma. Carla Silva, mesmo com menos anos de casa, também já acompanha "o crescimento" de várias famílias da cidade. Ou até mesmo dos turistas "que todos os anos passam pela Brasileira". "Lembram-se muito de mim pelo visual e pelo meu serviço", regozija-se a funcionária, que já sabe de cor os gostos dos clientes. "Eles vêm a meio da rua e já está a ser feito o pedido", concretiza Elvira.
A saber
24 colaboradores
fazem parte da equipa do café A Brasileira.
Quatro donos
Até ser comprado por Armindo Pinheiro, em 2004, o café A Brasileira passou por mais três mãos. Ao fundador, Adolpho Azevedo, seguiu-se, em 1934, Joaquim Queirós e, depois, em 1997, Joaquim Domingos Godinho.
Aniversário
O café vai promover uma atividade cultural por mês, até ao final do ano, porque, refere a responsável, além das famílias A Brasileira continua também a ser "dos artistas".