Abaixo-assinado da Liga dos Amigos do Hospital quer acabar com longas e penosas deslocações de doentes.
Corpo do artigo
Alexandra Ribeiro, 54 anos, acena sorridente da janela de casa em Viana do Castelo. É doente oncológica de segunda viagem. Em 2018, enfrentou pela primeira vez a doença e novamente no ano passado. Sorri porque "o cancro a ensinou a ser mais leve" e porque terminou na segunda-feira um ciclo de 20 sessões de radioterapia no Porto.
Livrou-se das longas e penosas viagens, de segunda a sexta-feira, numa carrinha com outros doentes da região [oito em média], para fazer tratamentos a mais de 70 quilómetros de casa. E contra as quais luta a Liga dos Amigos do Hospital de Viana do Castelo (LAHVC), com um abaixo-assinado que, em quatro semanas, reuniu 25 mil assinaturas. A reivindicação de um serviço de radioterapia no hospital de Viana também já chegou ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, que recebeu das mãos do presidente da LAHVC, Defensor Moura, um pedido por escrito para que "o mais rapidamente possível", concretize "o profundo e justo anseio das populações alto-minhotas".
"Fazia toda a diferença"
Alexandra, que já tinha passado pelo mesmo no verão de há cinco anos, quando fez 33 tratamentos no hospital de Braga, considera que a instalação do serviço em Viana "fazia toda a diferença. Poupava-nos".
Descreve viagens, por vezes, com paragens pelo caminho, para passageiros vomitarem ou fazerem necessidades em estações de serviço. Outras vezes, marcadas pelo peso da ausência de companheiros de viagem, que entretanto deixaram o lugar vago, porque perderam a luta contra a doença.
A lutar pela cura da doença na mama direita, depois de a ter curado na esquerda, durante 20 dias levantou-se às 5.50 horas para ir à "rádio". Não se queixa. Entre os companheiros de viagem, havia "uma senhora de Geraz do Lima, com cerca de 80 anos, que era a primeira a ser recolhida". "Se a carrinha chegava a minha casa, já com três doentes, às 7 da manhã, imagino a que horas ia buscá-la. A senhora devia ter de se levantar por volta das cinco horas", relata.
Céu Rosário Valença, 59 anos, conhece bem esta realidade. Teve cancro de mama. Nas deslocações a Braga, em viatura particular, deu boleia a outros doentes. Um que identifica como "M. T., de Vila Nova de Cerveira", fazia parte do trajeto de comboio.
"A "químio" é devastadora e para a radioterapia, o complemento do tratamento, a gente já vai fragilizada, sem forças. É terrível", afirma.
Milita pela instalação do serviço, Isabel Dias, de 63 anos, enfermeira aposentada, após dois cancros, da mama em 2009, e da tiroide em 2013. Passou pelo "massacre" de 23 sessões de radioterapia no Porto. "Sei que é um serviço caro, mas é e vai ser cada vez mais necessário. A nossa realidade é cada vez pior. Porta sim, porta sim, temos um caso de oncologia, infelizmente", diz.
O JN tentou contactar o Ministério de Saúde e a administração da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, mas não obteve respostas em tempo útil.
Distâncias
1,4 milhões de quilómetros são percorridos por 400 novos doentes oncológicos por ano, em viagens de ida e volta ao Porto e Braga, segundo a LAHVC.