Só em Lisboa, haverá cerca de 800 estrangeiros requerentes de proteção internacional alojados em hostels.
Corpo do artigo
"Dividem quarto, casa de banho e cozinha e saem para irem ao supermercado. O risco de contágio é maior do que se estivessem numa casa individual", alerta o vice-presidente do Conselho Português para os Refugiados (CPR), Tito Campos e Matos.
Esta semana, 138 imigrantes, hospedados num hostel, em Lisboa, testaram positivo à Covid-19. Faziam parte de 175 hóspedes, alojados em apenas 40 quartos. O vice-presidente do Conselho Português para os Refugiados admite que a instituição tem tido dificuldade em encontrar locais para hospedar os cidadãos estrangeiros e que o problema é antigo. "Desde 2017 temos vindo a alertar as entidades de que esta forma de alojamento não é a mais adequada, não só pela questão da pandemia, mas também porque estas pessoas não devem ficar muito tempo em alojamento transitório", alerta.
12095916
Tito Campos e Matos diz que os pedidos de asilo de refugiados em Portugal quase quadruplicaram no último ano. "Em 2014, recebemos 400 pedidos de asilo e, em 2019, quase dois mil. O número de refugiados em Portugal aumentou muito e o sistema de acolhimento não estava preparado para responder a um número tão elevado de pessoas", avança ao JN. Os centros de acolhimento estão sobrelotados e, por isso, o CPR tem recorrido a alternativas como "quartos alugados, pensões, apartamentos ou hostels". "Temos de garantir que todos têm um teto", frisa.
Tito Campos e Matos diz ainda que tem proposto várias soluções ao Ministério da Administração Interna. As respostas da tutela têm, porém, tardado em chegar. "Apesar dos vários avisos que fizemos de que havia cada vez mais gente nesta situação, as soluções não apareceram", diz.
Entre as propostas, estão a criação de mais centros temporários para a primeira fase do processo de requerimento de asilo. No caso dos refugiados que já tenham estatuto de proteção internacional, o CPR sugeriu à tutela "a afetação de equipamentos habitacionais não temporários". "Deviam criar-se alojamentos, públicos ou privados, com mais condições. Estes processos de asilo podem durar até um ano e não é bom que as pessoas estejam um ano num centro de acolhimento", explica.
O Conselho Português para os Refugiados está, neste momento, a acompanhar 900 requerentes de proteção internacional. Deveria estar a prestar apoio a apenas 400 cidadãos estrangeiros "em fase de acessibilidade", mas está a ajudar mais 500, que já não são da sua responsabilidade, "por falta de alojamento".
O JN enviou algumas perguntas ao Ministério da Administração Interna para perceber quantos cidadãos estrangeiros estão nesta situação e quais as alternativas estudadas para criarem mais espaços de acolhimento e outros alojamentos de caráter menos transitório para estes imigrantes, mas ainda não obteve respostas.