São Pedro Velho, em Mirandela, espera milhares de visitantes no regresso da feira do fruto "mais doce".
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Sete da manhã. No horizonte, os primeiros raios de sol indicam que está na hora de se iniciar mais uma jornada de trabalho na apanha do morango em São Pedro Velho, aldeia a 30 quilómetros de Mirandela, rotulada pelos cerca de 200 habitantes como a capital do morango do nordeste transmontano.
À beira da estrada fica uma exploração com cerca de dois hectares, de Manuel Pinto, um dos quatro agricultores que anualmente produzem cerca de 100 toneladas de morangos que são vendidos na região, mas também em Espanha, e empregam, sazonalmente, cerca de 40 pessoas. "Hoje vamos colher o suficiente para as encomendas que temos e depois vamos deixar o resto para apanhar no domingo para a feira", diz ao JN.
Enquanto isso, na exploração coberta por centenas de metros de plástico já estão distribuídas as oito pessoas contratadas para a apanha. De chapéu, por causa do sol, e com joelheiras para suavizar o contacto com o solo, Bruna Morais confessa que é um trabalho duro. "Isto ao fim do dia dá cabo de nós, são dores nas pernas e nas costas porque andamos todo o dia amarrados, por isso é que os mais novos não querem nada com isto e estão agarrados ao computador e aos telemóveis", diz quem já anda nestas andanças há 19 anos, repartidos por França e Portugal.
Não foi preciso andar muito para encontrarmos a exceção à regra. Três irmãs - Regina (25 anos), Sofia (28) e Infância (30) - não disfarçam a satisfação durante a apanha. "As pessoas novas não gostam da terra, não gostam de sujar as unhas, mas nós sempre fomos habituadas a trabalhar no campo desde pequeninas e gostamos", afirma Regina Martins, que dá a receita para esta "arte" de colher morangos: "Pegar com jeitinho, como se fossem ovos, porque são muito frágeis".
Manuel Pinto explica que a apanha requer muito cuidado. "Não se pode partir a planta, porque ela vai servir para um ano inteiro de produção", sublinha este produtor de morangos que tem características únicas.
Fim-de-semana perfeito
O microclima que existe na aldeia, propício ao cultivo do fruto, o solo rico em potássio e a experiência dos produtores que passaram algum tempo em países com tradição de morango, são fatores que conferem um aroma especial ao morango, mais doce que o habitual.
"Ainda agora tive aí pessoas que vieram de Famalicão e depois de os provarem pela primeira disseram logo que não há disto em mais parte nenhuma. É um favo de mel autêntico", conta.
No fim-de-semana, a Junta de Freguesia volta a promover a feira do morango, que regressa depois de dois anos de pandemia e Manuel Pinto acredita numa enchente. "Vai ser um fenómeno, já tenho medo de não ter morango para tanta gente", diz. Cada caixa, com dois quilos, fica a sete euros, mais um euro do que em 2019. "Tudo subiu. O plástico que utilizamos, o gasóleo nem se fala e até as plantas subiram", justifica.
Também a autarca local está otimista. "Estão criadas todas as condições para ser o fim-de-semana perfeito. Vai estar bom tempo, as pessoas estão com saudades de sair, juntando ao facto do nosso morango ser muito procurado", adianta Fernanda Guerra.