Ainda não era uma da manhã e os céus de Braga desabaram: o primeiro trovão até pode ter sido confundido por muitos com o som dos foguetes, mas o dilúvio que se seguiu, apesar de ter durado menos de dois minutos, confirmou que este ano nem a chuva faltou à noitada de São João.
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Nas ruas, como é costume, juntaram-se muitos milhares de pessoas. Quando as nuvens descarregaram o que tinham para descarregar, obrigando a multidão a dispersar momentaneamente e a abrigar-se onde fosse possível, porque guarda-chuvas era coisa que não havia, já o cortejo das rusgas tinha chegado ao Parque da Ponte, alguns tinham começado o caminho de regresso a casa e outros chegavam agora para o resto da noite.
“Este ano nem a chuva quis faltar”, graceja Maria do Carmo, bracarense que impele o marido a segui-la, para junto de uma rulote de farturas, onde se abriga até que a chuva acalme – isso acontece pouco depois, embora o estrago esteja feito: a rua está molhada, a roupa também. “Já estávamos para ir embora, o pior é para quem ainda fica. Mas hoje é para celebrar”, diz.
Antes da tal visita da chuva, que não foi assim tão inesperada quanto isso, pelo menos para quem segue as previsões meteorológicas, a festa fez-se com os ingredientes habituais: milhares de pessoas na rua, muitas luzes, o som estridente das cornetas, martelos a acertar nas cabeças de quem passa, o alho-porro a obrigar a desvios e muitos balões a ser lançados para os céus.
“Esta noite é um espetáculo, é a coisa mais bonita que há. É a noite em que Braga não dorme”, orgulha-se Manuel Rocha, “nascido e criado” bem perto do epicentro da festa, que a organização e o município pretendem ver classificada como património cultural imaterial. “Acho bem, é um reconhecimento justo”, garante o bracarense, que todos os anos faz questão de estar na rua para celebrar o São João.
E não seria a chuva, por certo, a estragar o que quer que fosse. “Claro que é melhor que não chova, mas o tempo parece que anda doido. Está um calor destes e chove?”, questiona Hermínia Silva, de Amares, que foi à festa em Braga com o filho e a nora. “Já é costume vir todos os anos, gostamos muito disto. Nos últimos anos tem estado sempre bom tempo, este ano foi isto, mas faz parte. O São Pedro é que manda”, afirma.
Depois do fogo lançado desde o Monte do Picoto, muitas das milhares de pessoas que antes haviam descido até ao Parque da Ponte fizeram o percurso inverso e, já sem chuva, voltaram a subir para a Avenida Central, onde uma verdadeira multidão – sobretudo jovens – aguardava o concerto de Diogo Piçarra, um dos pontos altos da noite mais longa do ano na cidade bracarense.
Tony Carreira e fogo a fechar
A festa de São João de Braga encerra esta terça-feira, dia em que há ainda muitas atividades para culminar uma programação com mais de 200 horas. Depois de uma noite intensa, o dia abre bem cedo, logo a partir das 9 horas, com o cortejo sanjoanino, que parte do Largo de São João do Souto, com os tradicionais carros da ervas, do Rei David e dos pastores.
À tarde, os principais destaques são a missa solene em honra de São João Baptista, às 16.30 horas, na Sé, a que se segue a aclamação das flores à passagem do andor, pelas 17.15 horas, no Largo do Paço. A procissão solene sai às 18 horas da Catedral, com uma dezena de andores e centenas de figurantes.
A noite tem dois pontos altos. O primeiro é um concerto do cantor Tony Carreira, às 22 horas, na Avenida Central. No final, a partir das 23.30 horas, uma sessão de fogo de artifício marca a despedida da edição deste ano das festas de São João de Braga e o habitual “até para o ano”. Com a expectativa de que em 2026 as celebrações sejam já com a festa inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.