A "padeira dos cravos e do Avante" é uma figura carismática do 25 de Abril em Mirandela

Não falha um dia comemorativo do 25 de Abril, sempre com dezenas de cravos para oferecer a quem marque presença nas cerimónias evocativas do Dia da Liberdade.

“Vou sempre levar os cravos. Até na pandemia, quando só lá havia meia dúzia de pessoas na cerimónia, fui com a máscara colocada e entreguei-os”, conta. “Todos os anos compro cinco ou seis molhos de cravos e fico muito feliz quando ando ali a distribui-los”, acrescenta.

No 25 de Abril de 74, Inês Seramota tinha 24 anos. Recorda com muita emoção aquele dia, principalmente por ser um momento marcante na vida do seu pai. “Era militante do partido comunista. À noite, fechava a porta da sua ourivesaria e fazia reuniões secretas, mas nunca chegou a ser preso pela PIDE. Também fazia a distribuição do Avante, metia os jornais debaixo das portas”, revela. Quando foi o 25 de Abril “foi um dia muito feliz para ele. Até chorou”.

Inês tem exposta na padaria uma edição do jornal "O Avante" com a sua fotografia tirada na altura da revolução. "Foi no Teatro mirandelense, estava com uma bandeira e vim logo na primeira página", diz com orgulho.

Mesmo antes do 25 de Abril, Inês já era conhecida pela solidariedade e de generosidade. Naquela altura, fazia visitas aos presos. “Levava sempre qualquer coisa para eles. Um pediu-me tabaco e, na semana seguinte, levei-lhe. Outro, uma vez, pediu-me bacalhau”, conta.

Esta quinta-feira, a padeira dos cravos não vai faltar às cerimónias comemorativas dos 50 anos do 25 de abril, em frente ao Palácio dos Távoras, onde está sediada a Câmara Municipal, para, uma vez mais, entregar dezenas de cravos aos participantes.