<p>Quem quiser encontrar Ana Paula Barros, 49 anos, a partir das 18 horas, procure-a em casa. A desempregada, que já se sentia pouco segura nas ruas da Amadora, ganhou ainda mais medo depois de ter sido assaltada, há cerca de dois anos. "Puxaram-me um fio que tinha ao pescoço e levaram-no, em plena rua, era meio-dia e tal. Até fiquei parva. Nunca mais usei nada valioso, só bugigangas", conta.<br /></p>
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Para a munícipe da Amadora, todos os meios de segurança são poucos para travar a criminalidade. Por isso, é completamente a favor do projecto de instalação de um sistema de videovigilância em várias ruas do concelho proposto pela Câmara mas chumbado esta semana pela Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD), que alega tratar-se de uma intrusão na privacidade das pessoas.
“Só quem anda a fazer mal é que tem a temer!”, riposta Ana Paula Barros. “Não é por haver câmaras na rua que vou deixar de me poder sentar a falar, passear num jardim ou fazer o que quiser”, defende.
Opinião semelhante tem José Santos, que já viu a sua mulher ser assaltada por esticão à porta de casa. “A privacidade é conversa fiada de gente que nunca foi roubada nem espancada, desses governantes que têm seguranças privados”, critica.
“Com a videovigilância, as pessoas são vistas e a polícia detecta-as rapidamente”, diz o reformado, que defende também a urgência de dar mais meios à polícia e rever as leis para que “quando alguém é apanhado, não seja solto logo a seguir”.
José Oliveira, 47 anos, também considera que a videovigilância “podia melhorar a segurança e impor mais respeito”. “Há assaltos com armas e vê-se venda de droga em muitos sítios, em pleno dia. Com as câmaras, eles tinham mais receio”, defende o funcionário de uma empresa de mudanças, que confessa ter algum medo de deixar os filhos virem brincar para a rua num dos concelhos com níveis de criminalidade mais elevados do país.
A loja de roupa onde trabalha Isabel Fontinha situa-se bem no centro da cidade, a poucos metros da Câmara e da estação de comboios, mas bem perto de uma esquadra da PSP. Mas nem por isso a funcionária, de 58 anos, se sente segura.
“Nesta rua há assaltos todos os dias. Quando chega às 18 horas, tenho um medo terrível de trabalhar”, admite Fontinha. “Talvez a videovigilância melhore, não sei. Mas de alguma forma se tem de dar a volta a isto porque a situação cada vez é pior”, alerta.
O Ministério da Administração Interna não autorizou a instalação de um sistema de videovigilância pedida pelo município da Amadora, devido ao parecer vinculativo negativo da CNPD, admitindo ter “dúvidas sobre os resultados e a eficácia” e considerando que coloca em causa “o direito fundamental à privacidade.
Entretanto, o presidente da Câmara, Joaquim Raposo, criticou o parecer da CNPD e prometeu apresentar nova proposta até final do ano.