A 5.ª edição da Acampada começa esta sexta-feira, em Covas do Barroso, no concelho de Boticas. O evento, que desde 2020 junta centenas de pessoas ao povo local na luta contra a instalação de uma mina de lítio nas imediações da aldeia, prolonga-se até domingo, com passeios ao rio Covas e a zonas naturais que podem ser afetadas com a exploração mineira, debates, partilha de experiências e um protesto.
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O evento, organizado pela associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDC), junta população local, emigrantes de visita ao concelho, e gente de várias latitudes nacionais, numa quinta no centro da aldeia, num convívio entre o verde e o correr da água. "É uma oportunidade de falar e de mostrar as gentes daqui, as paisagens, os modos de vida. Também para mostrar de perto aquilo que se quer defender com o não à mina, o tal sim à vida", disse Diogo Sobral, que há um ano trocou o mar de Cascais pelo mar verde do Barroso.
A fazer um doutoramento em Antropologia, Diogo sente que a Acampada "dá um rosto à luta", contribuiu para angariar fundos paras ações legais e também amplifica a denúncia. "Ajuda a tornar este apoio mais íntimo, mais humano e a dar cara e humanidade às pessoas que estão a resistir" contra a instalação de uma mina de lítio. Uma luta que começou em 2017 e que no último ano se agudizou, com uma servidão administrativa que permitiu à empresa, a Savannah Resources, entrar em terrenos de privados e de baldios para fazer prospeções, em dezembro de 2024. Pelo meio, uma providência cautelar parou as máquinas, que voltaram a furar a terra com o apoio do Governo, que defendeu a utilidade pública dos trabalhos.
As máquinas, por estes dias, estão paradas, mas "tudo indica que vão voltar", diz Diogo Sobral. "Vão querer continuar a avançar com os trabalhos de prospeção até ter esta primeira fase completa", disse aquele representante da UDCB. "Entrou também já um segundo pedido de servidão administrativa para outros terrenos. Ainda está em período de avaliação e que já foi contestado pela nossa parte", revelou Diogo Sobral.
"À boleia desta servidão administrativa veio um conjunto de violências e de abusos de várias ordens", denuncia a UDCB. "Tivemos várias vezes a empresa a trabalhar em terrenos fora do que era a área de concessão da servidão. E principalmente um cenário que tem sido de grande desconforto e insegurança aqui para os residentes locais, a presença 24 horas por dia de segurança provada, nas aldeias, nos montes, num contexto que é lido como uma forma de intimidação", acrescentou. Acusações que a empresa refutou anteriormente.
"A violência da servidão administrativa e a campanha que temos feito à volta disto, conseguimos chegar a mais pessoas, mobilizar mais indignação" contra a mina, que se nota, ano após ano, com mais gente a juntar-se na Acampada. Muitos são da zona de Lisboa, outros de zonas variadas do país, porque, sublinha Diogo Sobral, o problema da mina não é só de Covas do Barroso. "É perigoso tolerarmos a lógica do pisão, desde que seja no pé alheio, porque eventualmente chega ao nosso pé", alertou.
"Quando combatemos a normalização da injustiça estamos, no fundo, a tentar proteger toda a gente", disse Diogo Sobral. "Depois, a nível concreto, acho que falta muito uma discussão pública à volta do que esta mina é concretamente, que projeto é este", acrescentou aquele representante da UDCB.
"Há um conjunto de cenários negativos que são possíveis e que teriam consequências ecológicas, de saúde, até de segurança", alerta Diogo Sobral, em caso de acidente ou falha numa futura mina. "Falta discussão pública acerca dos impactos concretos deste tema", completou.
"Porque, vendo bem, a discussão é sempre à volta de precisarmos de minas, de lítio", alertou Diogo Sobral. "E, ainda que se aceite esse argumentário, há que ver que isto é uma mina concreta com um projeto concreto, com falhas técnicas concretas. Seria possível que alguém que fosse muito favorável à indústria de mineração e de refinação de lítio cá, olhasse para aquele projeto concreto e detetasse falhas incontornáveis que resultariam na inviabilização do projeto", defende a UDCB.