A apresentação da Carta Arqueológica de Mondim de Basto está envolta em polémica e poderá mesmo estar a ser investigada pela Polícia Judiciária. Actual autarca é acusado de ter rasgado páginas do livro, antes da apresentação, do prefácio e agradecimentos.
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O caso remonta a Janeiro, quando o município apresentou o trabalho desenvolvido pelo arqueólogo António Pereira Dinis. Na altura, alguns dos presentes aperceberam-se de que algo se tinha passado com o livro e os relatos na blogosfera referem "folhas mal coladas" e "outras que tinham sido rasgadas". Em causa poderá estar a alteração do prefácio e a folha referente aos agradecimentos que o autor tinha escrito.
António Pereira Dinis trabalhou durante vários anos na elaboração da obra, encomendada pela autarquia local, que durante mais de 20 anos foi presidida por Pinto de Moura. Este "dinossauro" autárquico do PSD não se recandidatou e o PS venceu com Humberto Cerqueira. Para o actual presidente da Câmara, a situação tem uma explicação simples e sem qualquer polémica. "Três meses após as eleições, a Câmara não ia publicar um livro onde estava escrito que o presidente era quem já não é", explicou, ao JN, Humberto Cerqueira.
Consciência tranquila
O autarca diz desconhecer que a PJ esteja a investigar o caso, mas mostra-se de consciência tranquila porque, assume, "o livro tinha um prefácio do anterior presidente" e passou a ter um prefácio seu. Cerqueira contou ainda que, quando tomou posse, o livro já estava na gráfica, mas a Câmara não tinha como o pagar nem enquadrar numa rubrica orçamental e só foi possível a publicação devido a uma candidatura a fundos externos. Contudo, a alteração que propôs não foi do seu agrado e, por isso, Humberto Cerqueira acusa a gráfica de "não ter feito um bom trabalho", embora ressalve que "não houve adulteração na questão científica" e que não andou ninguém da autarquia a cortar e a colar páginas. "Sou professor de profissão e quem me conhece sabe que era incapaz de uma coisa dessas", rematou.
O anterior presidente da autarquia não quer abordar qualquer assunto que se prenda com a realidade autárquica. Contactado pelo JN, Pinto de Moura apenas confirmou que esteve na apresentação da Carta Arqueológica porque foi convidado, mas só a posteriori teve conhecimento da alteração do livro. "Não me apercebi, mas depois disseram-me. Desde que saí da Câmara, a política para mim acabou e, sinceramente, nem quero saber", concluiu.
Agradecimentos de fora
Também o autor, António Pereira Dinis, não deu qualquer valor ao assunto. "Só falo de questões de natureza científica e para o resto não estou disponível", afirmou. Apesar disso, o arqueólogo confirmou, ao JN, que escreveu "uma parte onde fazia os seus agradecimentos que não foi publicada". Pereira Dinis garante que apenas se limitou a prestar um serviço à autarquia e que o conteúdo científico não foi alterado. "Não estou disponível para alimentar polémicas", disse.
A deputada do PSD na Assembleia Municipal de Mondim de Basto, Aurora Peixoto e Pereira, apresentou, em comunicado, um protesto contra o que considerou "desonestidade na forma como foi alterada, deliberadamente, a Carta Arqueológica de Mondim". O motivo do protesto prende-se com o facto de o "Executivo Camarário censurar e manipular o trabalho feito pelo professor António Pereira Dinis na Carta Arqueológica, através da introdução de novas páginas e do corte de outras onde o anterior Executivo e demais pessoas que tornaram este estudo possível eram referidos. O acto de vandalismo praticado sobre o livro não tem qualquer atenuante, jamais poderá ser explicado ou justificado num tempo de liberdade de expressão e democracia"
"É inaceitável e impossível de entender é como um Executivo composto por vários profissionais vindos da docência pode ter permitido tal acto. Não houve ninguém que tivesse a sensatez de declarar que jamais se adultera um livro quando este já se encontra fechado" diz ainda o comunicado, que acusa o Executivo de tentar "chamar para si o mérito que é de outros, atitude que é de lastimar".