O sentido descendente dos Aliados é um bom retrato de como a histórica avenida portuense, inaugurada em 1917, mudou de face ao longo dos últimos anos e deu lugar ao luxo.
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Nasceram dois hotéis de cinco estrelas, o Monumental e o Eurostars, cresceram lojas destinadas a públicos com carteiras que não olham a gastos, como a Burberry, na esquina com a Elísio de Melo, a Boutique dos Relógios Plus e a Fátima Mendes ou a Tod"s. Qualquer semelhança com um passado não muito afastado no tempo é pura ilusão. A mudança veio para ficar.
"A estratégia global passa por afirmar o Porto e, em particular, a Avenida dos Aliados como uma marca forte e, simultaneamente, genuína. Um destino comunicado pelo seu todo, que se afirma como seguro para turistas com traços financeiros fortes que lá podem realizar as suas compras de luxo", resume Teresa Aragonez, do Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro, especialista em marketing de turismo.
Os Aliados são hoje uma extensão de produtos de gama alta que brilham aos olhos de quem a visita. De vestuário a calçado, passando por acessórios que estão ao alcance de poucos, até marcas automóveis que optaram por se instalar na avenida, por ali encontrarem o cenário mais adequado às suas exigências, como aconteceu em novembro do ano passado com a BMW. "Os nossos clientes são diferentes e oferecemos-lhes um espaço também ele personalizado. A Avenida dos Aliados, por ser emblemática, foi a escolha ideal", explica Rui Monteiro, chefe de vendas da BMcar Aliados.
Do outro lado da avenida, porém, a mudança tarda em aparecer e o comércio mais tradicional vai resistindo. Mas não teme as mudanças que estão à vista de todos e que gradualmente alteram o perfil dos Aliados. "Os critérios dos novos turistas são outros. Têm objetivos diferentes e não vão aos mesmos locais de consumo que os convencionais", nota André Silva, proprietário do histórico Café Aliança, há mais de 60 anos de portas abertas. "É o futuro, o que não quer dizer que isso venha a ser negativo, pelo contrário, pode trazer novas oportunidades de desenvolvimento", entende.
Como nota Luís Carvalho, diretor do mestrado em Economia e Gestão da Inovação da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, "o luxo chama ao Porto o denominado turista flutuante". Ou seja, o que "apenas se desloca à cidade para fazer as suas compras, tal como as poderia fazer em Londres ou no Dubai". Com mais dinheiro no bolso, mas menos tempo de estadia e "que não procura os locais habitualmente percorridos pelos turistas convencionais".