Luís Dias, agricultor lesado pelo Estado, foi hospitalizado pela segunda vez na quarta-feira, desde que está em greve de fome há 29 dias. Teve alta esta quinta-feira e voltou para a frente da residência oficial do primeiro-ministro de onde se recusa a sair até ter uma resposta de António Costa.
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O empresário agrícola de Idanha-a-Nova, que trava uma luta judicial com o Estado há oito anos, começou a terceira greve de fome há quase um mês e nada o parece demover. Esta quarta-feira voltou a ser hospitalizado. "Ir ao hospital desgasta-me muito, são 29 dias. Ontem foi pior, andava cheio de dores há uma semana porque tinha uma obstrução no intestino, mas tive alta. Se desmaiar ou começar com vómitos secos é que já não saio de lá", contou ao JN.
Na semana passada, Luís Dias também foi para o hospital e voltou para São Bento no dia seguinte, onde está a dormir numa tenda. "Fico aqui até o primeiro-ministro cumprir o acordado ou acontecer o pior", disse na altura ao JN, vontade que reforçou esta quinta-feira.
Luís Dias exige apoio financeiro para recuperar a sua produção de amoras destruída por uma tempestade em 2017 e voltou a protestar após oito meses à espera de uma solução prometida por António Costa em janeiro. O agricultor nunca recebeu a ajuda do Estado a que tinha direito e tem prejuízos que ascendem aos quatro milhões de euros.
Esta quarta-feira foi também criada uma petição dirigida ao primeiro-ministro a exigir uma "solução mediada" para o empresário agrícola e a sua ex-mulher e sócia Maria José Santos, aos quais o Ministério Público e a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território já deram razão. O abaixo-assinado pede ainda "uma reunião com os agricultores" e que se "concretize o processo de mediação pela Provedoria de Justiça anunciado em janeiro deste ano". Em dois dias, a petição já conta 6130 assinaturas.
O agricultor trocou vários emails com o gabinete de António Costa, nos últimos meses, tendo o chefe de gabinete do primeiro-ministro prometido uma solução "pragmática e expedita" em março. Em janeiro, o gabinete de Costa já se tinha comprometido a remeter o caso a arbitragem da provedoria de justiça, mas nada foi feito.
A história remonta a 2014, mas o mais grave aconteceu em dezembro de 2017, quando a tempestade "Ana" destruiu uma parte da produção de amoras de Luís Dias e da ex-companheira. O agricultor candidatou-se a fundos europeus, tendo a reconstrução de 51 estufas sido avaliada em 240 mil euros (100 mil de investimento próprio e 140 mil de fundos europeus). O empresário fez o pedido à Direção-Regional de Agricultura e Pescas do Centro, mas esta, acusa, recusou-se a pagar.
O Ministério da Agricultura disse ao JN, há um mês, que "mantém o apoio, no valor de 140 mil euros", mas Luís Dias diz que quase cinco anos depois este valor já não chega para recuperar o prejuízo e que será necessária outra solução.