Habitantes da aldeia de Ermelo, em Arcos de Valdevez, vão continuar a abastecer-se nas nascentes. Preferem o sistema caseiro à ligação à rede da Águas do Alto Minho.
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A empresa Águas do Alto Minho (AdAM) concluiu este mês as obras de ligação da rede pública de abastecimento de água à freguesia serrana de Ermelo, em Arcos de Valdevez, num investimento que rondou os 200 mil euros. As infraestruturas estão operacionais, com caixas para instalação de contadores em todas as casas, mas entre os menos de 100 habitantes da aldeia há quem não tencione contratar o serviço.
Principalmente, os que, por força da necessidade, investiram em sistemas próprios ligados a nascentes, argumentam que se sentem "servidos". Comentam que apesar da ligação à rede "ser bem-vinda", já chega "muito tarde". "Estamos no século XXI e só agora é que chegou a água, tal como temos aqui a 1000 metros a barragem e só em 1981 é que foi instalada aqui a eletricidade.
Foi há quase 40 anos e já nessa altura a corrente elétrica ia até ao Porto", comentava ontem Efiménio Fernandes, que possui residência em Ermelo, sua terra natal, e também em Lisboa. "A estrada para a aldeia já a temos desde 1967, o ano em que fui para França, mas água canalizada só agora", completou António Amorim, ex-emigrante, escutando a conversa.
Funcionários da AdAM estão a deslocar-se a Ermelo para auxiliar a população nos contratos de instalação, mas nenhum daqueles dois moradores está interessado.
"Há oito anos, eu e um cunhado fizemos um investimento de 20 mil euros para "trazer" a água da nascente para as nossas casas. Tivemos de fazer uma mina com 40 a 50 metros. Não quer dizer que de futuro não o faça, mas por agora não vou fazer contrato", justificou Efiménio.
meio século de atraso
O mesmo diz o antigo emigrante que quando regressou à terra também teve de instalar canalização por conta própria. "Tenho água pura a 400 metros, não vou estar a beber água do rio e a pagar uma taxa. Estou servido", justifica António, comentando que o sistema de abastecimento público "é bom e era muito esperado, mas a água já devia cá estar há mais de 50 anos".
Gracinda Fidalgo, também antiga emigrante, juntou-se à conversa. "A água ainda cá não está. Só quando sair das torneiras", atirou, descontente. "Há muitos anos que ando a reclamar porque não tenho água. Tenho um depósito que encho de água que vem do monte para as fontes públicas", disse, contando que em sua casa a corrente "não tem pressão nenhuma". "Tenho de ligar uma "bicha" ao depósito e colocá-lo a uma altura suficiente para a água poder descer", explicou.
Efiménio diz que "a população não dispõe de café, nem mercearia, e tem de se deslocar quatro quilómetros para o Soajo ou 20 até Arcos de Valdevez, para se abastecer até de bens alimentares. "Não há um local em Ermelo para comprar uma caixa de fósforos", lamenta.