Número de profissionais é insuficiente para cobrir escalas a partir de outubro. Médicos já apresentaram escusa de responsabilidades e pedem soluções.
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O Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) vai ficar sem urgências pediátricas durante a noite a partir do próximo mês por falta de profissionais. A unidade de Portimão também já não conseguia assegurar escalas de noite, agora Faro tem o mesmo problema. Os pediatras de Faro enviaram um apelo e escusas de responsabilidades ao Ministério da Saúde, à Ordem dos Médicos e à Administração do CHUA há duas semanas, mas ainda não há solução.
O serviço de pediatria de Faro conta com 13 médicos, dos quais seis com mais de 55 anos (dispensados de fazer Urgências) e um com mais de 50 anos (dispensado de urgências noturnas). Dos seis que restam, dois estão de baixa prolongada e outro pôs baixa no início da semana. Só com três especialistas é "impossível cobrir as necessidades, mesmo com a diretora do serviço a ajudar". A pandemia agravou a situação porque as urgências dividiram-se em "suspeita de covid-19" e "não covid", passando a exigir dois profissionais.
"O problema não é de agora", admite uma das pediatras, que não quer ser identificada, ainda que a carta enviada às autoridades tenha sido assinada por todos os especialistas e residentes. "Tem havido concursos e têm aberto vagas, mas não conseguimos atrair pediatras, que já são escassos em todo o país", lamentou a médica.
"Mas alguém tem de resolver, porque esta situação também prejudica a formação de novos especialistas, que poderiam querer ficar no Algarve, mas não estamos a conseguir dar a formação que devíamos", lamentou.
As equipas têm sido apoiadas por "outras especialidades, como medicina geral", mas sem escala possível em outubro, as urgências não poderão funcionar para as 90 mil crianças e jovens que só tinham resposta em Faro.
A Administração do CHUA assegurou, ao JN, que está "a providenciar para que [a escala de outubro] fique suficientemente dotada com médicos especialistas de pediatria". Quanto a uma solução permanente para a escassez de profissionais na região, acrescentou, têm "vindo a intervir a todos os níveis e [estado] em contacto com a ARS Algarve e a tutela nesse sentido", além de procurar "junto dos Conselhos de Administração dos principais centros hospitalares do país, no intuito de obter reforços" e ter "colocado anúncios na imprensa com o mesmo objetivo".
Questionado sobre o problema, o Ministério da Saúde não respondeu.
Sem época baixa
O serviço de Pediatria do Centro Hospitalar Universitário do Algarve cobre uma população estimada
de mais de 57 mil utentes, que podem chegar a 90 mil por serem serviço de referência da região (respondem quando Portimão precisa), e que duplica ou triplica nos meses de verão, com os turistas.
Três pediatras estão a assegurar serviço no Hospital de Faro, numa equipa de 13 que está reduzida pela idade avançada e problemas de saúde. Em Portimão, a falta de profissionais encaminha os utentes para Faro. Sem urgências possíveis dentro de poucos dias, todo o Algarve terá apenas um serviço privado com Urgências noturnas de pediatria e neonatologia.