Estudantes da Universidade do Porto de várias áreas conceberam uma exposição que está patente até ao final do ano no Museu Soares dos Reis.
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"Precisava da vossa opinião para ver a altura do 'gato'", convoca o professor Hugo Barreira. Rosa, Jéssica e Edysandra atendem de imediato, e seguem-no até ao painel que abre a exposição "Encontros às cegas", concebida de raiz no Museu Nacional Soares dos Reis por alunos da Universidade do Porto, com peças do acervo.
"Vou pôr 1,40 [metros] para baixo", ensaia o técnico do museu, a testar as sugestões dos estudantes, que logo constatam que o pequeno trabalho a pastel seco datado de 1919 ficaria demasiado baixo. Edysandra Frisoli relembra: "em cima tem o título!". Definidos os respetivos espaços, o nome da mostra e "Um belo sonho", de Alberto Aires de Gouveia, ficaram nos devidos lugares ao final da tarde da passada quarta-feira, a postos para a abertura da exposição, no dia seguinte.
"A questão das medidas é uma excelente metáfora do processo", observa Hugo Barreira, responsável científico pela disciplina "O Museu como lugar de fruição", uma das cinco unidades curriculares do programa de Competências Transversais e Transferíveis criado pela UP no início do ano nas áreas da cultura, arte e património, e que leva aulas para instituições culturais da cidade.
"O objetivo era que os alunos conhecessem o 'backoffice' do museu, este museu invisível, e as competências que ele envolve, que são aplicadas em qualquer área do conhecimento", explica o professor da Faculdade de Letras, satisfeito com o resultado do projeto "completamente fora da caixa". "A curadoria e o conceito da exposição são dos estudantes", destaca.
"O museu deu-nos a liberdade de sermos nós a imaginar a exposição, de deixarmos à solta a nossa imaginação para podermos atrair públicos mais jovens", conta Jéssica Novais, que estuda Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia e escolheu esta unidade porque crê que "a arte e a cultura estão muito ligadas à educação".
"De repente, temos um outro mundo na cabeça. Foi um mundo novo que se abriu; ou mundos novos", sorri Rosa Silva, que foi jornalista e é estudante de Ciências da Comunicação. "Quando vemos uma exposição, a gente nem imagina o que está por trás", diz Edysandra Frisoli, brasileira que chegou ao Porto há um ano para frequentar o mestrado em Ciências da Educação e que acabou por cruzar o conhecimento adquirido na nova unidade curricular com o que lhe proporcionara o curso de História. "É como voltar às minhas raízes científicas", compara.
"Houve, como era o objetivo da unidade curricular, um trabalho muito articulado entre a equipa do museu e os alunos, de forma a que estes ficassem com um conhecimento pleno do museu", realça António Ponte, que dirige o "Soares dos Reis".
Encontro com peças
O visitante da exposição é convidado a encontrar, ao longo da mostra, a peça com que mais se identifica, a partir de um questionário que é distribuído à entrada. O objetivo é cativar o público mais jovem. A mostra está patente até ao final do ano.
Vários cursos
Entre os inscritos na unidade curricular "O Museu como lugar de fruição" estão alunos de áreas improváveis como Direito, Economia, Ciências da Educação, Veterinária, Gestão ou Engenharia. As novas unidades são abertas a estudantes de todos os cursos da UP.
Outras instituições
O Teatro S. João e a Casa da Música também acolheram as unidades curriculares transversais da UP, com "Volta ao palco em 80 horas: o teatro como espaço de aprendizagem" e "Música e sociedade", respetivamente.