A ambulância da Delegação de Safara/Sobral da Adiça da Cruz Vermelha Portuguesa (DS/SA-CVP), a única do município de Moura, envolvida no acidente que ocorreu na noite do passado dia oito, na EN258, onde morreram dois dos três tripulantes, não estava certificada pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) para fazer o serviço de emergência médica pré-hospitalar.
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A ambulância, uma Citroën, matrícula 76-TA-19, respondia ao acionamento feito pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM e deslocava-se de Safara para Santo Aleixo da Restauração para assistir uma mulher que sofria de prisão de ventre havia três dias. O serviço foi feito pela Citroën, mas deveria ter sido pela viatura legalizada da delegação de Safara/Sobral da Adiça, uma Mercedes, 37-SE-82, mas que estava na oficina.
Percorridos cerca de três quilómetros após sair de Safara, numa curva, a Citroen embateu no muro de proteção da ponte da Ribeira de Safareja e caiu até à margem da ribeira, por uma ribanceira com 10 metros, esmagando-se contra duas enormes pedras que originaram a morte imediata de António Manuel Caeiro, de 49 anos, e José Liberato Silva, de 50, dois operacionais da Cruz Vermelha. Feliciano Domingues, de 42 anos, voluntário da Cruz Vermelha, ficou em estado crítico, continuando internado no Serviço de Cirurgia do Hospital de Beja.
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Questionado pelo JN se a viatura envolvida no acidente estava legalizada e inspecionada pelo INEM como Ambulância Tipo B e apta a fazer o transporte a doentes urgentes e emergentes, o Instituto respondeu que "não existe registo da certificação do veículo de matrícula 76-TA-19", acrescentando que "não tem conhecimento da matrícula ou viatura que é utilizada quando acionada pelo CODU".
O JN questionou a direção da Cruz Vermelha Safara/Sobral da Adiça, tendo o vice-presidente, João Dinis, confirmado que "apesar do veículo ter a célula sanitária, os documentos não foram entregues no INEM para a certificação", justificando que a viatura aprovada (Mercedes 37-SE-82) "estava na oficina para reparação do ar condicionado", dizendo ainda que a mudança de viatura "não foi comunicada ao INEM". João Dinis garante, no entanto, que a Citroën tinha sido aprovada na inspeção automóvel a que todos as viaturas estão obrigadas.
Uma nova depois de certificada
Relativamente aos seguros, João Dinis referiu que a viatura "tem seguro de acidentes de trabalho para os funcionários do quadro (como eram as duas vítimas mortais), mas não para os ocupantes (como o voluntário ferido), sendo o mesmo da responsabilidade da Cruz Vermelha Portuguesa ".
A Citroën, sabe o JN, foi adquirida a um cidadão espanhol e depois transformada em ambulância, estando registada em Portugal desde 25 de maio de 2017, tendo a delegação de Safara/Sobral da Adiça a garantia da Direção Nacional da Cruz Vermelha que a ambulância acidentada será substituída por uma nova, "que será entregue depois de certificada pelo INEM", adiantou João Dinis.