Um casal apaixonado, um naufrágio, uma sucessão de tragédias, 20 anos volvidos e, no final, um anel que muda tudo e prova o verdadeiro amor. O romance "O Poveiro", de 1859, é provavelmente o mais antigo inspirado nas gentes da Póvoa de Varzim. Agora, é reeditado pela Junta de Freguesia, que, à porta do Dia dos Namorados, decidiu aliar ao livro uma arte com história na Póvoa e desafiar as ourivesarias locais a criarem o tal anel. O resultado são, agora, nove anéis para celebrar o amor poveiro.
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"Temos uma grande tradição de ourives na Póvoa. Muitas peças famosas saíram daqui. Vinha gente de todo o país cá comprar. Decidi juntar isso ao livro e o desafio foi que eles apresentassem um anel inspirado neste romance, que pudesse ser símbolo do romance poveiro", explicou, ao JN, Ricardo Silva, o presidente da união de freguesias Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai.
O romance do século XIX, recentemente descoberto, é de Manuel Alberto da Guerra Leal, um oficial da Marinha, provavelmente, à época, destacado em serviço na Póvoa de Varzim. João e Inês são os protagonistas. Ele um pescador poveiro, ela uma humilde aldeã. Apaixonam-se, casam, João emigra para o Peru, naufraga, volta a casar, Inês, que o pensava morto, também. Reencontram-se 20 anos depois e é o anel que ela lhe deu na véspera do casamento que vai provar a sua identidade.
A fama do ouro poveiro
No livro, o anel é apenas descrito como sendo "de prata com dois corações do mesmo metal". Depois, cada ourivesaria deu largas à sua imaginação, criando o seu próprio produto, de acordo com a sua matriz e o tipo de clientes que tem.
"Achei uma ideia fantástica para reativar um pouco da tradição da ourivesaria poveira. Noutros tempos, o ouro deu muito nome à Póvoa", recorda António Manuel Ferreira, o dono da ourivesaria António Augusto & Filhos, que, em véspera do lançamento, mostrou o anel ao JN.
O bisavô fundou a ourivesaria Gomes em 1900. A casa, hoje extinta, fez história: a mulher de Franco comprava lá jóias, era a ourivesaria da Casa Real portuguesa e foi ali que a bala que atingiu o Papa João Paulo II foi incrustada na coroa de Nossa Senhora de Fátima. O avô, o pai e António trabalharam lá. Em 1986, abriram casa própria. António leva 49 anos a trabalhar ouro e prata.
Agora, o anel do amor poveiro foi, admite, "um desafio": dois corações em filigrana - que é tradicional do norte -, num anel simples, mas muito elegante, que fecha à medida do dedo.
Hoje, a partir das 19h00, no Museu Municipal, o romance "O Poveiro" e os nove anéis vão ser apresentados à Póvoa. A entrada é livre.
Coleção "Saudades do Mar"
"O Poveiro" foi publicado em folhetins no jornal "O Comércio do Porto" em 1859. Agora, está reunido em livro e é o segundo volume da coleção "Saudades do Mar", editada pela Junta da Póvoa. "A ideia é, todos os anos, republicar um livro que, na altura, teve pouca tiragem e que é muito raro", explicou o presidente da Junta;
Receita para o "Madre Matilde"
Até ao Dia dos Namorados, quem comprar o anel poveiro receberá, de presente, o romance "O Poveiro". O livro vai ainda estar à venda na cidade. As receitas angariadas reverterão a favor do Instituto Madre Matilde, que acolhe meninas em risco.