Associações tinham acordado com proprietária do canil da serra da Agrela, em Santo Tirso, tirar cães e gatos do espaço, quando os ânimos se exaltaram.
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Os cerca de 100 animais que sobreviveram ao incêndio que atingiu o abrigo Cantinho das Quatro Patas, na serra da Agrela, Santo Tirso, já estavam a ser retirados do espaço, a meio da tarde do passado dia 19, quando centenas de populares forçaram o portão e, à revelia da GNR, invadiram a propriedade, removendo cães de forma desordenada e sem controlo.
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O impasse que se vivia desde a tarde do dia anterior - cerca das 15.30 horas, as chamas mataram 73 animais -, sem que as proprietárias do abrigo tenham acolhido a ajuda de associações de proteção animal e sem que os sobreviventes tivessem sido retirados, terá potenciado o desfecho da situação.
Mas o JN sabe que a invasão do Cantinho das Quatro Patas aconteceu quando já tinha sido iniciada a remoção de animais, que decorria com a autorização da dona do espaço, Alexandra Santos, e sob a supervisão de militares do Núcleo de Proteção Ambiental (NPA) da GNR de Santo Tirso.
Veterinário autorizou
De acordo com Márcia Rocha, que estava entre os quatro voluntários da associação Maranimais, à qual foi permitida a entrada no recinto, o acordo para a retirada de animais seria alcançado pouco depois das 15 horas, após a mediação de uma ativista da causa animal, que, por telefone, fez a ponte entre aquele grupo e Alexandra Santos, convencendo-a de que poderia confiar os cães àquelas pessoas.
Contactado pelo NPA, o veterinário municipal também autorizou a recolha dos animais pelas associações.
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Márcia Rocha relata ao JN que, obtida a concordância de todos, solicitou a colaboração das instituições e veterinários que estavam no local. "Pedi para as pessoas se acalmarem e pedi uma pessoa por associação, para que ajudassem e ficassem com os animais de forma registada. Falei para toda a gente ouvir, para se acalmarem e que queríamos pessoas para começar a retirar os animais. Houve veterinários e enfermeiros que se prontificaram", narra a voluntária, indicando que a entrada no terreno ficou limitada ao grupo da Maranimais, já que a proprietária "não deixou entrar mais ninguém", e estava a ser feita por uma lateral, longe dos populares que se aglomeraram junto ao portão principal.
"A proprietária disse para começarmos a tirar alguns animais, e a agente [do NPA] começou a tirar fotos deles, para fazer o inventário dos que saíam. Já tinham saído cinco, que foram para a nossa associação, e depois alinhavei com cada pessoa para começarem a trazer os restantes. Foi nesse preciso momento que se deu a invasão", recorda Márcia Rocha.
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Cada vez mais gente
"Começou a chegar cada vez mais gente, porque aquilo estava a dar na televisão, e as associações tentaram conter as pessoas", recorda Ana Ceriz, da CãoViver, que, tal como Carla Soares, da Midas, aguardava para fazer o resgate dos cães quando ocorreu a invasão.
"Muitos animais entraram em pânico e fugiram, e houve ataques de cães a pessoas", relatam os voluntários.
O incêndio de 18 de julho atingiu dois abrigos para animais, na serra da Agrela, em Santo Tirso, vitimou 73 animais e levou à abertura de um inquérito pelo Ministério Público.
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Quase 20 autos da GNR
A GNR fez 17 autos de contraordenação, entre 2006 e 2013, ao Cantinho das Quatro Patas, que, "em função das infrações sinalizadas", foram remetidos à Direção-Geral de Veterinária e à Câmara de Santo Tirso.
Dona identificada por maus-tratos
Por "estar a decorrer um processo-crime", a GNR não se pronunciou sobre o ocorrido nos dias 18 e 19 de julho, mas o JN apurou que a proprietária do abrigo foi identificada por maus-tratos a animais nesse fim de semana, ao ser constatado o estado de subnutrição em que se encontravam vários cães.