Diversas entidades, incluindo a GNR, alertaram técnico municipal de Santo Tirso, que só foi ao abrigo no dia seguinte ao incêndio que vitimou 73 animais.
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Entre a tarde e a noite do passado dia 18, sábado, e já após o incêndio que deflagrou cerca das 15.30 horas, matando 73 animais num abrigo na serra da Agrela, o então veterinário municipal de Santo Tirso foi contactado, sabe o JN, ao longo de várias horas e por diversas entidades, tendo sido informado do sucedido e da necessidade de proceder à avaliação médica dos sobreviventes. Porém, Jorge Salústio só iria ao local na manhã de domingo, mas sem conseguir retirar grande parte dos cães - seriam cerca de uma centena, excetuando os mortos.
O profissional acabaria por deixar o "Cantinho das Quatro Patas" por volta da hora do almoço, altura em que foram removidos 14 animais para o canil municipal a partir do caminho adjacente à estrada que liga Agrela a Sobrado, longe do olhar de todos. Do outro lado do terreno, a indignação dos populares subia de tom, e durante a tarde concentraram-se mais pessoas, que acabaram, pelas 16.30 horas por invadir o espaço e fazer uma remoção descontrolada dos animais.
Vários telefonemas
Exatamente 24 horas antes, o veterinário tinha sido, contudo, contactado pelo Núcleo de Proteção Ambiental (NPA) da GNR de Santo Tirso e por Lígia Andrade, da Associação Midas, para que, enquanto autoridade sanitária veterinária concelhia, verificasse o estado dos animais.
"A primeira vez que liguei ao veterinário eram 16.30 horas, e a última foi cerca das 20, e essa foi a sétima vez. Das sete vezes em que falei com ele, no sábado, disse-me sempre que estava tudo bem", recorda a responsável, que refere ter sido "a primeira pessoa" ligada à causa animal a chegar ao local, "por volta das 17 horas".
Segundo o JN apurou, o veterinário voltou a ser contactado pelas 21, mas desta vez novamente pelos militares da GNR, que verificaram que um cão necessitava de assistência imediata.
Piquete do canil
Ainda assim, o técnico só enviaria ao local o piquete do canil, para retirar aquele animal, indicando ao NPA que, uma vez que os restantes animais não necessitavam de cuidados urgentes, deveriam ficar no abrigo até ao dia seguinte, altura em que ali se deslocaria para diligenciar a retirada dos mesmos do "Cantinho das Quatro Patas". Nessa noite, e segundo a cronologia dos meios que estiveram nas operações, o veterinário seria ainda contactado pelo Comando Distrital de Operações de Socorro.
Mas Jorge Salústio apenas iria ao "Cantinho das Quatro Patas" na manhã de domingo, já perto das 10 horas, e só então avaliou o estado dos animais que sobreviveram ao incêndio do dia anterior. Após a remoção de 14 cães, cerca das 13.30 horas, tentou encontrar lugar para os restantes noutros centros de recolha oficial. A meio da tarde, e já com centenas de pessoas nas imediações e sem qualquer resolução ou informação oficial sobre as diligências em curso, a situação descontrolou-se e o abrigo foi invadido.
Autorização para falar
O JN contactou Jorge Salústio, que, lembrando o facto de depender "hierarquicamente do presidente da Câmara" e de estar a ser alvo de "processo disciplinar", informou ter solicitado "autorização para falar" com a comunicação social, não tendo obtido, "até à data, nenhuma resposta".
Pormenores
"Obrigação"
"O veterinário municipal é que tinha competência para avaliar se os animais estavam bem ou não", aponta a responsável da Midas, que no dia 18 contactou ainda a dona do abrigo, que "recusou ajuda" e "disse que estava tudo bem".
"Boa saúde"
O presidente da Câmara, Alberto Costa, afirmou no Parlamento que "as informações que foram chegando do veterinário municipal eram sempre no sentido de que a situação estava controlada e que os animais estavam de boa saúde".
Outro abrigo
O "Abrigo de Paredes", também invadido, teria 80 animais. Nenhum foi atingido pelo fogo.