O edifício que albergou a Estação de Zoologia Marítima Augusto Nobre, no Porto, vai ser reabilitado para dar lugar a um polo do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.
Corpo do artigo
Sem qualquer atividade desde 2017, a discreta construção amarela localizada na Foz vai assim recuperar a função que esteve na sua origem, abrindo as portas ao público para mostrar a vida dos oceanos, como o Atlântico que a espreita todos os dias a todas as horas.
Foi precisamente o avanço desenfreado do mar que levou ao encerramento do aquário público que ali funcionou entre 1927 e 1965, ano em que as marés vivas agravaram as já então deficientes condições das instalações. Ainda assim, a estação criada em 1914 pelo zoólogo e professor universitário Augusto Pereira Nobre manteve-se, até há quatro anos, como centro de apoio a aulas e investigação da Faculdade de Ciências, em diversas áreas.
No ano passado, o edifício foi devolvido por aquela faculdade à Reitoria da Universidade do Porto, que agora revelou ao JN o propósito de ali ser criado um polo museológico. As obras de reabilitação e adaptação ao novo uso devem arrancar assim que houver financiamento.
Origem da vida
Segundo fonte da Reitoria, a ideia é "devolver o espaço à sua função original de promoção cultural, abrindo-o à cidade e à população como um museu-aquário". A proposta museológica sublinha a intenção de abordar "a origem da vida, enaltecendo, em particular, o valor simbólico do mar, que tanto representa para os portugueses, e desvendando os processos naturais que ocorrem em meio aquático e na transição para o meio terrestre".
Quem por ali passar e conseguir espreitar por cima dos muros percebe que o local tem sido um convite ao vandalismo. E foi para evitar o acesso indevido de pessoas que a Reitoria mandou entaipar portas e janelas, preservando pelo menos o interior do edifício centenário, modesto no tamanho e na conceção arquitetónica.
Pela leitura de vários documentos publicados nos canais oficiais da Reitoria, é possível saber um pouco sobre a história da estação de zoologia e os percalços que o edifício foi conhecendo ao longo dos tempos. Por exemplo, em meados do século passado, já depois de ter sido criado o aquário público, as instalações começavam a dar claras mostras de desgaste, tornando-se desde então evidente a necessidade de reparação. O que aconteceu. Só que, em 1961, chegou-se à conclusão de que a estação não teria condições para assegurar todas as valências.
Outros locais
Até que se pensou na construção de um edifício de raiz: primeiro em Matosinhos, depois na zona hoje ocupada pelo parque da cidade. Nada vingou. E as obras de reabilitação feitas posteriormente não conseguiram anular os estragos causados pela força do oceano.
Agora, com um novo projeto, a velhinha estação passará a ser o terceiro polo do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, a par da estrutura central localizada no edifício da Reitoria e do polo constituído pela Galeria da Biodiversidade e o Jardim Botânico do Porto.
Pormenores
Vários tanques
A estação alargou o seu âmbito em 1927, com a construção do aquário público. Era composto por 36 tanques para exposição de animais de água doce, salobra e salgada, incluindo animais mais corpulentos. Também havia terrários para anfíbios.
Diversas funções
Com o passar dos anos, as instalações foram acusando desgaste. Além do aquário, que encerrou ao público em 1965, o edifício albergava diversos gabinetes de trabalho, dependências para alojamento de investigadores, laboratórios destinados ao ensino e à investigação e habitação do guarda.