Mãe de sete filhos, lutadora e mulher de fé, Emília Conceição esteve 18 dias internada. Surpreendida pela alta, a família não conseguiu organizar a receção.
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Estava há 18 dias no quarto 540 do 5.º piso do Hospital S. Sebastião, na Feira. Quando foi internada, a família chegou a temer o pior. Mas o hospital ligou, na sexta-feira, pela hora do almoço, para os filhos e netos de Emília Conceição e nem houve tempo para uma receção à porta como tinham imaginado. A avó Coelha, como é conhecida por ter tido sete filhos de enfiada, não os surpreendeu. Sempre foi uma "força da natureza". Aos 100 anos, recuperou da Covid-19.
"É uma lutadora e tem muita fé", atira, despachado, o neto Ivo Gomes, à porta do hospital. Emília Conceição, natural de Fiães, na Feira, entrou no hospital no dia 30 de março, com sintomas do novo coronavírus. No dia seguinte, o teste à Covid-19 deu positivo. O lar Santa Teresinha, onde ela está por vontade própria, em Cucujães, Oliveira de Azeméis, já viu três utentes morrerem às mãos da pandemia, mas a avó Coelha não quis entrar nessas contas.
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"Foi a doente mais velha que passou por aqui", diz Yolanda Martins, médica de medicina interna. A doença, sabe-se, é imprevisível, e Emília desafiou os números. "Quando ela entrou, a situação clínica não era muito grave. Tinha insuficiência respiratória, necessitava de internamento. Não precisou de ventilador, só oxigénio, mas é sempre preciso ter muita cautela", explica Yolanda.
A senhora de 100 anos evoluiu bem, já não tinha sintomas há vários dias. Não conseguiu ver os familiares pelos tablets que o hospital recebeu ontem para videochamadas. Mas o neto Ivo ligava todos os dias para lhe enviar força pela voz dos médicos. E Emília parece ter-lhe dado ouvidos. Quase três semanas depois, o teste deu negativo. Voltou para o lar.
"Estamos muito contentes, não só porque é uma senhora de 100 anos, mas porque já demos mais de 150 altas", diz a médica. Quando o telefone do neto tocou, Ivo correu para o hospital. "Queríamos fazer uma receção à saída e nem deu tempo. Ela está curada", dizia. Os primeiros dias do internamento "foram muito complicados". "As notícias não eram muito favoráveis. Mas conhecendo como conhecemos a avó Coelha, esta era só mais uma luta. Já passou por tantas", conta.
Não foi há muito tempo que a família se juntou para lhe cantar os parabéns. No dia 11 de dezembro, uma quarta-feira, Emília comemorou o centenário no lar. Está lá há sete, preferiu estar ali do que viver sozinha. Tem seis filhos vivos, mais de dez netos e Ivo já lhe perdeu a conta aos bisnetos. É viúva há mais de 60 anos, conseguiu criar os filhos com trabalhos na fábrica do papel, nas rendas de bilros, a ajudar numa funerária e na apanha da lenha. Nasceu um ano depois do fim da I Grande Guerra, viu três filhos e quatro genros irem para a Guerra do Ultramar. Aos 100, a vida continua a desafiá-la, talvez por isso os netos lhe chamem "força da natureza".
Outros casos
Fez 100 no São João
Luciano Marques da Silva comemorou os 100 anos no Hospital de S. João, no Porto, a 31 de março. Médicos, enfermeiros e auxiliares pararam o trabalho para lhe cantarem os parabéns, com bolo. Ao fim de dez dias de internamento, recuperou da Covid-19.
Homem na China
Um homem de 100 anos teve alta, no início de março, de um hospital em Wuhan, cidade na China onde começou a epidemia, após ter estado duas semanas internado.
Italiano de 101 anos
Um italiano de 101 anos, internado num hospital de Rimini, cidade no norte do país, é um dos recuperados. Tornou-se num símbolo de esperança no país com mais mortes por Covid-19.