Diversão no Queimódromo do Porto atrai milhares de pessoas de várias faixas etárias. Dia dedicado à música popular, na terça-feira, contou com o tradicional concerto de Quim Barreiros e registou 32 mil entradas.
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As câmaras captam-lhe o rosto já envelhecido, e o mar de juventude que a rodeia mergulha-a num sonoro aplauso. Tem 70 anos, Fátima Lopes, e a felicidade ampliada num dos ecrãs gigantes do palco do Queimódromo do Porto. As rugas perdem-se no olhar vibrante, e ela sorri, canta e dança na primeira fila, contagiada pela energia do incontornável - e também septuagenário - Quim Barreiros. Aguenta firme as duas horas de concerto, que entram madrugada dentro, ao lado da filha, Vera, e da neta de 16 anos, Íris, com quem ali chegara às 21, numa antecedência de duas horas e meia para as três gerações da família poderem assegurar um lugar "à frente".
"Viemos hoje [ontem] por ser ele [Quim Barreiros] e para a minha mãe conhecer a noite da Queima", adianta-se Vera Teixeira, de 38 anos, que ao longo da atuação viu disparar as notificações no telemóvel. "Recebi imensas mensagens, a dizer: "a tua mãe está aí e sempre a aparecer"". "É por ser velhotinha", dispara logo a septuagenária, a rir enquanto conta que adora dançar. "Se tiver saúde, no próximo ano venho de certeza. Até mais do que uma vez", sorri Fátima, fã confessa do cantor de Vila Praia de Âncora e estreante nas andanças das noitadas dos estudantes. "Trabalhava num café em Custóias [Matosinhos], e nunca tinha tempo para vir", desculpa-se, animada com a diversão.
Recinto cheio
Quim Barreiros não desilude e, ao 35º ano a atuar na Queima das Fitas do Porto, ainda aquece o ambiente morno que paira antes do concerto da eterna terça-feira "pimba" - pelas 00.30 horas, já os aglomerados dispersos dão lugar a uma onda dançante que se estende até às barraquinhas, e a Federação Académica do Porto soma 20 mil entradas.
O cantor fez-se ícone das noites da Queima e fenómeno intergeracional: na primeira fila, contra o gradeamento, eles e elas, ainda numa juventude pré-20, vibram de olhos - e telemóveis - postos no palco. Sabem de cor as letras de músicas lançadas quando ainda nem tinham vindo ao Mundo. "Ele é a cultura de Portugal", atira Mariana Meireles, enquanto a amiga, Joana Nascimento, também de 19 anos, diz que o artista "consegue pôr toda a gente a mexer e trazer para aqui pessoas mais velhas".
"Tranquilo"
Rendida ao "ambiente" do Queimódromo, Francisca Freitas fica encantada ao "ver toda a gente com as camisolas dos cursos". Tem 18 anos e, tal como a colega, Beatriz Oliveira, vive a estreia na festa da Academia do Porto. "Estou a achar tranquilo; pensei que houvesse mais confusão", confessa.
Às gargalhadas, uma rapariga tenta dançar num rodopio e é o cimento do chão que lhe ampara o desequilíbrio. Vale-lhe estar perto do acesso à zona de apoio clínico, onde o comandante dos Bombeiros Voluntários do Porto, Luís Silva, regista, "nas três primeiras noites, uma média de 80 a 90 intervenções, das quais 30 a 40 foram atendidas no posto médico avançado e as restantes resolvidas pelas equipas que andam no terreno".