Depois dos ambientalistas, ontem foi a vez dos técnicos de segurança e protecção civil apontarem a falta de planeamento e ordenamento do território, como as construções em leito de cheia, como uma das causas da tragédia.
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Ricardo Ribeiro, presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil, lembra que dilúvios como o da manhã de sábado "não são completamente imprevisíveis na Madeira" e que, na história da ilha, há casos anteriores de tragédias provocadas por aluviões. Pelo que atribui à construção em cima de ribeiras - como aconteceu com a rotunda do Dolce Vita, no Funchal -, ao desvio ou à redução dos canais e à impermeabilização dos solos o facto de a água ter procurado outros caminhos. Em seu entender, a falta de planeamento foi "o grande potenciador das consequências deste desastre".
A associação também critica a falta de planeamento dos serviços de emergência e dá como exemplo o facto de bombeiros e Protecção Civil só terem conseguido chegar ao Curral das Freiras mais de 24 horas depois do dilúvio. "O acesso de emergência não precisa de ser uma estrada. Pode ser um aceiro por onde os bombeiros possam passar ou um heliporto no sítio certo", defendeu.
Ao JN, Ricardo Ribeiro aludiu também ao facto de a maioria das câmaras municipais do país não ter comandantes operacionais municipais, nem técnicos superiores de Protecção Civil que, em seu entender, podem ajudar a prevenir que casos destes ganhem proporções tão dramáticas.
Neste momento, uma das preocupações é saber de que forma as enxurradas podem ter afectado as estruturas dos edifícios. Mais do que nas encostas - onde as casas da Madeira parecem encavalitar-se umas em cima das outras - vários engenheiros de estruturas ouvidos pelo JN defendem que é na zona baixa do Funchal, sobretudo onde a água correu a grande velocidade e abriu buracos nas estradas que pode haver danos nos edifícios.
"Pode haver casos em que as fundações tenham ficado descalçadas. É preciso saber em que situação estão aquelas fundações", defendeu Alfredo Campos Costa, admitindo que na Madeira "há competências para isso". O engenheiro lembra que a ilha tem uma topografia e orografia "muito particular" e não partilha das críticas de desordenamento: "As pessoas não têm sítio onde construir" e erguer as casas nas encostas "é uma coisa incontornável naquela ilha".
Segadães Tavares também insiste que "o facto de as casas estarem na encosta não quer dizer que estejam em perigo" e até admite que as construções nas zonas altas do Funchal, onde os solos são basálticos, se não sofreram danos "no auge da tempestade", não devem vir a sofrer agora.
Ainda assim, por "prudência", sugere aos moradores que verifiquem se houve danos nas suas casas, se abriram fendas ou se, estando em falésias, se perderam a base. Teixeira Trigo também não está tão preocupado com a construção nas encostas, mas na zona baixa do Funchal. "É preciso inspeccionar esses edifícios, mas não é urgente", disse.