Curso em Oliveira do Bairro ajuda venezuelanos com formação superior a retomar profissões.
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"Como vou conseguir fazer um contrato se não souber escrever bem em português?". Este é um dos receios que levaram Katty Castellano, uma advogada venezuelana de 31 anos, a frequentar o primeiro curso de Português para migrantes promovido pela Câmara de Oliveira do Bairro.
No município, "cerca de 800 pessoas, ou seja, 3,1% da população, são migrantes", que precisam de ajuda para se integrarem, conta o presidente da Autarquia, Duarte Novo. Entre eles há "159 da Venezuela", que estão longe de dominar a língua de Camões.
O curso arrancou em novembro e é gratuito. Na sala de aula, improvisada no edifício da Câmara, 19 dos 20 alunos são da Venezuela. Há advogados, médicos e engenheiros que, enquanto aguardam a validação dos diplomas que atestam a sua formação, procuram "melhorar o português", caso contrário, assumem, dificilmente conseguirão retomar as carreiras profissionais.
Limita empregos
Katty tem um forte sotaque espanhol. Casou com um português, mas só teve de começar a praticar o idioma há ano e meio, quando trocou as convulsões sociais na terra natal por uma nova vida em Portugal. Quer deixar a fábrica de eletrónica onde trabalha e retomar a advocacia, pelo que se esforça para aprender a "falar bem português".
O engenheiro civil Aurio Martins é filho de portugueses e não tem grandes problemas na expressão oral. "Mas não sei escrever, é só erros, e esta é uma coisa que me limita para procurar emprego", revela.
Thaís Jesus, 34 anos, é advogada de formação, mas desempenha funções como administrativa no hospital de Cantanhede. Foi a primeira a inscrever-se, mal o curso abriu, pois sente dificuldades na "gramática, escrita e pronúncia", essenciais para voltar a "desempenhar o trabalho" de advogada.
A Helena Pimenta, 47 anos, técnica de Análises Clínicas, o emprego de assistente operacional no hospital de Aveiro não a satisfaz. "Fico triste, tenho capacidade para mais". Por isso, aplica-se a aprender português para "interagir" com facilidade e conseguir um "emprego melhor" na sua área.
Atenta, na primeira fila da aula, está María Rodríguez, médica especialista em ginecologia e obstetrícia que nasceu há 54 anos na Venezuela. Experimentou trabalhar numa fábrica, mas desistiu. Não perde o sonho de "voltar a exercer medicina". Ao lado, o enteado Alessandro Loureiro tem dúvidas que consiga completar o curso superior que frequenta na Universidade de Aveiro se não "dominar bem" o idioma.
Medidas
Câmara cria centro e plano de apoio
Para além do curso, Oliveira do Bairro tem outras estratégias de inclusão. Em fevereiro abriu um Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes, que já registou 302 atendimentos. Há dias concluiu o Plano Municipal para a Integração de Migrantes, que visa facilitar o "acesso a medidas e serviços de apoio", para que as pessoas não se sintam desamparadas e se adaptem mais facilmente, explicou o presidente da Câmara, Duarte Novo. O documento vai para discussão pública e será submetido a aprovação da Câmara e Assembleia.