Avenida da República não tem lugares de aparcamento, mas muitos condutores infringem a lei, por falta de alternativas. Câmara diz que há espaços na via e nas áreas envolventes.
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Decidido, António Gonçalves resume de uma assentada o quotidiano da Avenida da República, em Vila Nova de Gaia: "É uma desgraça, porque não há estacionamento. Mas toda a gente estaciona". O extenso eixo, que se estende entre a Ponte Luís I e a rotunda de Santo Ovídio, atravessando o centro da cidade, está marcado com a linha amarela que proíbe estacionar, mas há sempre filas de carros encostados às bermas em ambos os sentidos da avenida, onde estão concentrados diversos serviços.
Nas zonas onde existem paragens de autocarros, tudo se complica: sem espaço para encostar, os transportes públicos veem-se obrigados a parar no meio da via, interrompendo a circulação, o que acaba por gerar filas e confusão em horas de ponta.
Da loja onde trabalha, quase em frente à Câmara, Mónica Vieira assiste na primeira fila aos "filmes que aqui há sempre". "Os carros param [junto à paragem], e, para fazer a entrada e saída dos passageiros, os autocarros têm de ficar no meio da rua. Os carros que vêm atrás começam a apitar. Às vezes, os carros estão estacionados mesmo na paragem, e as pessoas querem sair [do autocarro] e não podem. Há insultos: as pessoas que vão nos autocarros insultam os que deixam os carros parados e, às vezes, há porrada... Aqui, é um caos", narra a funcionária de uma loja de roupa, que critica a inexistência de áreas dedicadas ao estacionamento na avenida.
"Para estacionar é horrível. Para nós, lojistas, é muito mau. Há garagens, mas falam em 60 e 80 euros...", diz Mónica Vieira, que já ali foi multada por parar na linha amarela. "Vamos arriscando... Mete-se a carrinha e, se virmos a polícia, damos uma volta. Temos muitas dificuldades para estacionar. Não há condições na avenida nem nas transversais", aponta António Gonçalves, que defende a criação de zonas de estacionamento na Avenida da República.
Em cima do passeio
Vizinha de uma clínica, Paula Costa vê "sempre muitas ambulâncias a parar", incluindo em cima do passeio, e conta já ter testemunhado casos em que condutores que vão "levar à clínica pessoas com deficiência ou com pouca mobilidade são multados".
A situação atinge também quem compra no comércio local. "Perdemos clientela porque as pessoas levam multas. Já tive clientes a serem multados por causa de estacionamentos rápidos. É um problema, porque também há pessoas que abusam, e que vão trabalhar e deixam aqui o carro", queixa-se Paula, lembrando que na zona "não há acesso a estacionamentos fáceis e gratuitos".
"Ficámos bem servidos a nível do metro, sem dúvida, mas deveriam ter pensado no estacionamento, que não há mesmo", lamenta Maria João Passos.
Lembrando que o futuro passa pela "retirada de veículos particulares dos centros" das cidades, o Município de Gaia diz estar "empenhado nessa política", e esclarece que "não é possível - nem seria intenção - a criação de lugares de estacionamento na Avenida da República, uma vez que não tem a largura regulamentar suficiente". A Autarquia vinca ainda que na via e na envolvente existe uma "quantidade aceitável de locais de estacionamento público para os serviços que estão alojados na Avenida".