Mais de cem litros de óleo de motor para carros foram derramados numa mina da serra de Santa Justa, em Valongo, para onde também foram atirados tapetes e pneus.
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Os detritos estão na gruta há uma semana e podem contaminar a linha de água que ali existe e se estende até ao rio Simão. Perante a gravidade do caso, a Câmara de Valongo está a "tomar todas as diligências" para avançar com uma queixa-crime no Ministério Público. A limpeza da gruta começará a ser feita amanhã.
Sem sistemas de vigilância por perto, ainda não foi possível identificar o autor do crime ambiental, que ocorreu na semana passada (madrugada de dia 8 para dia 9). Haverá uma testemunha que pode ter visto a carrinha que transportou o entulho, mas sem grandes elementos de identificação.
"É horrível. Só tapetes, eram uns 40 e na gruta há fetos raros que estão todos tingidos. É um crime ambiental", revoltou-se António José Felgueiras, de 63 anos, que, depois de reformado, passa ali grande parte dos seus dias.
Património arqueológico
"Quando cheguei aqui na quinta-feira [dia 9], reparei em qualquer coisa estranha. Fui ver e deparei-me com material de oficina", afirmou António, que avisou de imediato a Câmara de Valongo e a Proteção Civil. No entanto, foi o próprio que, com a ajuda de alguns membros do Grupo de Espeleologia e Montanhismo (GEM) de Valongo, começou a retirar o entulho da mina com 70 metros de profundidade.
"No sábado de manhã, comecei a retirar os tapetes, bidões de óleo e os pneus. Ontem [anteontem], a Câmara veio recolher", revelou António, acrescentando que, no mesmo dia, durante a tarde, a Autarquia dirigiu-se ao local novamente, mas desta vez acompanhada pela PSP, para dar início ao processo que dará entrada no Ministério Público.
"Isto é património arqueológico. Tem mais de dois mil metros de galerias e 500 poços. As águas, cheias de óleo, vão ter a um fontanário, perto da ribeira da Cana, onde as pessoas bebem", afirmou Eduardo Vieira, de 36 anos, membro do GEM há cerca de seis anos.
Cristina Madureira, da divisão municipal de Ambiente, esteve ontem no local e alertou para a dificuldade da limpeza do poço.
"Articulamos com os serviços e com os Bombeiros Voluntários para fazer a recolha dos materiais na sexta [amanhã]. A maior preocupação é conter os óleos que foram derramados, e já contactamos uma empresa para proceder à descontaminação", avançou a técnica.
Pormenores
Difícil limpeza
Para garantir que a mina de água não é danificada pela limpeza que terá de ser feita, a Câmara de Valongo tem contactado várias empresas para estudar as opções viáveis.
PSP no local
Dois agentes da Brigada de Proteção do Ambiente da Polícia de Segurança Pública estiveram no local, juntamente com técnicos da Autarquia, a tomar conta da ocorrência.
Espécies protegidas
As minas têm vários fetos raros e servem de abrigo a morcegos, que poderão ter sido afetados pelo derrame de óleo e pela deposição do entulho.