Autocarros da Rodoviária de Lisboa a abarrotar, mas metro e comboios com pouco movimento
Os transportes públicos começaram a circular, esta manhã de segunda-feira, com lotação máxima de dois terços da sua capacidade e a imposição do uso de máscara.
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Na periferia de Lisboa, onde a oferta rodoviária é mais fraca, as regras não estão, porém, a ser totalmente cumpridas. Logo pela manhã, em Odivelas, um autocarro da Rodoviária de Lisboa estava à pinha, apesar de todos os passageiros usarem máscara. A linha Azul do metro e o comboio da linha de Sintra circulavam ainda a meio gás, sendo possível manter a distância social.
O autocarro 206 da Rodoviária de Lisboa seguia, esta segunda-feira de manhã, de Odivelas para a estação de metro da Pontinha, completamente cheio, com todos os lugares sentados ocupados e dezenas de passageiros de pé. Uma lotação que não inibiu o motorista de parar em todas as paragens, onde entraram mais pessoas para o autocarro já cheio. "Aqui não é fácil controlar. Há pessoas à espera de um autocarro vinte ou trinta minutos. Quando finalmente chega, vão apanhar só o próximo?", questiona uma das utentes, que preferiu manter o anonimato.
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Ao chegar à estação de metro de Sete Rios, uma das mais movimentadas, o cenário muda um bocadinho. "Muita gente ainda deve estar em casa, porque ainda há poucas pessoas nas carruagens", comenta Idília Serôdio, 64 anos. Constantina Gonçalves, 60 anos, viaja "com algum receio", mas os cumprimentos das distâncias sociais e a obrigação do uso de máscara dentro das carruagens do metro trazem-lhe mais segurança. "Tive de ir à Segurança Social hoje de manhã e não senti que houvesse mais pessoas, mas estavam a usar máscara, o que me deixou tranquila porque nunca sabemos com quem estamos a falar", comenta.
Benevenuto Cabral, 35 anos, natural de Angola, estava em Portugal a visitar a família quando o período de confinamento por causa da Covid-19 começou. Tal como a maioria dos utentes da Comboios de Portugal (CP) está a usar máscara e acha que a medida só peca por tardia. "Já não era sem tempo. Não faz sentido uns usarem e outros não", diz. As medidas só serão respeitadas por todos, acredita, se houver mais fiscalização. "Nem sempre está a acontecer a limitação obrigatória nas carruagens, tem de haver um maior controle senão não conseguimos parar a pandemia", diz, sentado num banco sozinho à espera do comboio.
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Ana Daio, 54 anos, também a única ocupante de outro assento, partilha a mesma opinião. "A obrigatoriedade do uso de máscaras já devia ter sido tomada. Hoje vi todos de máscara, mas ainda pouca gente nos transportes. Trabalhei durante os últimos meses e não senti muita diferença no número de passageiros", comenta a empregada de limpeza, que perdeu grande parte dos seus rendimentos neste período de pandemia. "A carga horária diminuiu e estou a receber menos. Não podia deixar de trabalhar, tenho contas para pagar", explica.
O primeiro secretário da Área Metropolitana de Lisboa (AML), Carlos Humberto, em declarações ao JN, diz que os motoristas têm o dever de informar a Rodoviária de Lisboa sobre situações de "procura substancial das carreiras" e que a responsabilidade do não cumprimento das medidas, que entraram hoje em vigor, é da empresa Rodoviária de Lisboa que "não pôs a circular o número de veículos suficientes para que não se ultrapasse o limite de dois terços".
"É preciso reforçar, nas carreiras em que se verificou essa sobrelotação, o número de viaturas para que as pessoas cumpram as regras que estão estabelecidas e não haja mais gente daquela que está estabelecida legalmente", frisa. "É da responsabilidade da Rodoviária de Lisboa cumprir com o que está estabelecido na lei", reforça.
Carlos Humberto diz ainda que a medida não é de fácil cumprimento, uma vez que "os motoristas não estão permanentemente a contar o número de pessoas que entram e que saem" dos autocarros. No entanto, ressalva, "quando é visivelmente evidente que o autocarro tem mais do que dois terços da capacidade, os motoristas podem chamar a atenção dos passageiros que estejam a mais, não deixarem entrar mais gente, não pararem nas paragens seguintes ou chamarem as autoridades".
O primeiro-secretário da empresa responsável pela rede de transportes públicos rodoviários da Grande Lisboa garantiu que está a apurar mais informações sobre as carreiras que circularam hoje acima da capacidade e que vai pressionar a Rodoviária de Lisboa para reforçar as carreiras e os horários.
Em resposta escrita ao JN, a Rodoviária de Lisboa diz que "está comprometida em assegurar o cumprimento das recomendações da Direção Geral de Saúde no que diz respeito às medidas de segurança dos seus clientes".
A empresa de transportes avança que "está a monitorizar a procura de forma a ajustar a oferta de acordo com as diferentes fases de desconfinamento". A RL diz ainda que "foram colocadas em circulação todas as viaturas articuladas que compõem a frota da Rodoviária de Lisboa e que têm um maior número de lugares sentados".