Consequências da pandemia e mercado imobiliário ditaram fecho de espaço cultural.
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Quatro anos depois de ter regressado ao antigo Cine-Teatro Avenida, a cultura vai voltar a deixar o emblemático edifício, situado no centro de Aveiro. O Cine-Teatro Avenida, que funciona como café e sala de espetáculos, encerra a 10 de junho. Os "culpados" foram a pandemia e questões imobiliárias.
"Não estamos a fechar portas porque queremos, mas sim porque nos querem de cá para fora", explicou esta quinta-feira do JN Patrícia Surrador, que abriu o espaço cultural, em 2018, com o sócio Hugo Pereira.
Em quatro anos de atividade, dois foram afetados por uma pandemia que obrigou o Avenida Café-Concerto a encerramentos temporários consecutivos à conta dos confinamentos. "Nessa altura, fizemos um acordo com o senhorio [uma sociedade composta por três herdeiros dos donos originais do edifício]. Ficou estipulado que, quando retomássemos em força, fazíamos um plano de pagamento para liquidar os valores que ficaram por pagar", adianta a empresária, que garante que o acordo acabou por não ser cumprido.
Recentemente, os sócios do espaço receberam uma carta do senhorio, onde lhes era feito um ultimato. "Ou saíamos agora e perdoavam-nos a dívida, ou ficávamos até ao final do contrato, em abril de 2023, e tínhamos que pagar a totalidade do que está em dívida. Como isso era impossível, tivemos que tomar a decisão de fechar", conta Patrícia.
Quando arrendaram o espaço - que outrora tinha sido um edifício de referência na cidade -, Patrícia e Hugo encontraram-no "quase em ruínas". Por isso, tiveram que investir milhares de euros para o transformar naquilo em que se veio a tornar. "Nem instalação elétrica tinha. Até as sanitas que cá estão são nossas", recorda a empresária.
Peças de teatro, concertos, rodas de samba, sessões de cinema. De tudo isso foi recheada a programação do Avenida Café-Concerto nos últimos quatro anos. E agora, após o alívio das restrições da pandemia, o público, garantem os proprietários, "estava a voltar em força". Por isso, e porque sentem que "a cidade continua a precisar de um espaço destes", Patrícia, Hugo e Daniel Fernandes - que entrou como terceiro sócio, já durante a pandemia, para ajudar a alavancar o negócio - vão partir para um novo projeto. Também ele cultural e também ele em Aveiro, que deve abrir no verão.