Em Eiriz, Ancede, ouvem-se queixas de quem perdeu nas chamas.
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"Pedimos às pessoas para limparem os terrenos e ainda nos tratam mal. Até desligam o telefone na nossa cara". O desabafo é de Manuel Ferreira, morador na rua do Minhoso, em Eiriz, Ancede. Em redor da sua habitação, o negro tomou conta da paisagem por um dos incêndios que ontem atacou sem dó nem piedade, o concelho de Baião. O outro, em Teixeira-Teixeiró, também ardia desde a véspera na zona sul da serra do Marão As chamas na manhã desta sexta-feira andaram descontroladas e "por um triz" não destruíram a casa e a oficina de Manuel Ferreira.
"Gastei 400 euros a limpar os meus terrenos e de nada valeu porque o vizinho não limpa os dele", denuncia. Vinha, árvores de fruto e um trator de lenha: tudo ficou queimado. "Salvou-se a casa e a oficina", certifica, com ombros caídos pelo peso da tragédia. Até poderia ter sido pior, não fosse "uns metros de mangueira" que anteontem, ao final do dia, tinha comprado por temer o pior face ao fogo que já lavrava nas redondezas.
Foi com a mangueira ligada à rede pública e com a ajuda da família munida de baldes que conseguiu travar o avanço das chamas. "Ficamos à nossa sorte. Apareceu um carro de bombeiros, às 10 horas da manhã, mas sem água. Cortaram a estrada, e ajudaram-nos no que puderam. Mas sem água...", revela.
Fumo retira visibilidade
O incêndio de Ancede chegou a ter quatro frentes ativas: de Esmoriz a Geraldo; do campo de futebol da Portela do Gôve à zona Industrial de Eiriz; de Lordelo até à Casa de Penalva; de Adaúfe a Agrelos, Santa Cruz do Douro. Arderam 200 hectares de mancha florestal.
O fumo na zona era tanto que retirava visibilidade aos bombeiros no terreno e aos aviões no ar. A perigosidade do combate era real. "O terreno é todo em colinas, com linhas de água. Se tivéssemos bombeiros com água, fazíamos uma linha de combate monte abaixo e poderíamos suster o avanço do fogo. Assim, para racionar a água, é impossível. Deixamos arder até zonas onde podemos atacar. Os reabastecimentos dos tanques são muito demorados", lamentou um dos chefes dos bombeiros que operava nas proximidades da zona Industrial de Eiriz.
Um outro problema reportado pelos bombeiros ao JN são os montes sujos. "Os donos dos terrenos cortam os arbustos, mas deixam a lenha espalhada", acrescentam.
Filipe Fonseca, vice-presidente da Câmara de Baião, contactado pelo JN, diz "não entender" as queixas de falta de água. "Há dois pontos de água, na freguesia, além de piscinas particulares", garantiu.
Admitindo contra informação, o também responsável pela Proteção Civil local assume problemas de limpeza em terrenos particulares. "Se o vizinho não limpa, o munícipe pode, ele próprio, promover a limpeza do terreno e passar a fatura ao vizinho. No domínio público, a Câmara efetuou a limpeza de 250 hectares ao longo de estradas e caminhos municipais", garante.
A noite caiu e as chamas continuaram a consumir mato e floresta. A população mantém-se alerta.