No século XX, a cidade era famosa pelos "banhos quentes". Agora, o MAPADI (Movimento de Apoio de Pais e Amigos ao Diminuído Intelectual) quer recuperar a tradição e voltar a pôr a Póvoa de Varzim no mapa dos tratamentos à base de água salgada aquecida. O Salvsterapia abriu portas a 14 de fevereiro. As receitas vão ajudar "meninos especiais".
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"Neste momento, apoiamos 400 cidadãos com deficiência. Só conseguimos fazer tudo isto com a abertura à comunidade. É algo que nos distingue. Criamos espaços para os nossos utentes que, nas restantes horas, são utilizados pelo público em geral e geram receitas que nos permitem custear esses equipamentos", afirma o presidente do MAPADI, António Ramalho.
Sobe a luz, sobe o gás, sobe a conta do supermercado e o Estado "não acompanha" com o aumento das comparticipações, lamenta. Consciente do problema, o MAPADI há muito que meteu pés ao caminho: começou, há 15 anos, com a lavandaria industrial e as estufas. Seguiu-se a lavagem de carros, os biscoitos do Boca Doce, a cantina e os serviços de catering. Ginásio, fisioterapia e piscina também estão abertos a todos. Por um lado, aumenta as fontes de receita e, por outro, dá formação e cria empregos para os seus "meninos".
As águas poveiras, particularmente ricas em iodo, são procuradas com fins medicinais desde o século XVIII. No século XIX, os balneários de "banhos quentes" eram já negócio próspero na cidade. Os jatos de água do mar aquecida, captada diretamente da praia, atraíam à cidade gente abastada de todo o norte do país. À boleia da "invasão", cresceram hotéis, teatros, cafés e salas de jogo. Floresceu a Póvoa de Varzim cosmopolita.
O último balneário - o Povoense - fechou as portas a 4 de junho de 1973. Ironicamente, a Póvoa seria elevada a cidade 12 dias depois.
Agora, e, ainda que a captação não possa ser feita diretamente do mar, António Ramalho quer que o Salvsterapia faça renascer a tradição das terapias de água salgada.
A piscina interativa, com água a 36 graus, convida ao relaxamento. Tem seis jacuzzi, cascata e corrente. Em frente, está o duche vichy com câmara de vapor, esfoliações com sal e envolvimento em algas, cromoterapia e musicoterapia à mistura. Na haloterapia, há chão salgado, uma parede de quatro metros com blocos de sal e dois vaporizadores de água salgada. Além dos benefícios para a pele, o tratamento - único na região - "é especialmente aconselhado em casos de doença pulmonar obstrutiva crónica".
Uma piscina com 300 quilos de sal imita o mar morto. Os mais recentes estudos dizem que uma sessão de 50 minutos no flutuário "corresponde a quatro horas de sono profundo", explica a fisioterapeuta Gisela Vieira. Na "Experiência Senso" há um colchão de água quente que "massaja" e, ao lado, das pedras quentes aos óleos e a cristais de sal há massagens variadas.
No final, o chá, que vem da horta da "casa", e as bolachinhas feitas pelo Boca Doce, lembram que aquele também é um projeto de inclusão.
No espaço, das conchas às redes de pesca, é a Póvoa que se respira. A história de uma cidade que cresceu à custa do mar, entre pescadores e banhistas, sempre bafejada pelo cheiro a maresia.
Apoia 400 pessoas
O MAPADI apoia diretamente 200 cidadãos com deficiência (no lar, nas residências autónomas, nos dois Centros de Atividades Ocupacionais e no Centro de Emprego Protegido) e outros 200 nas escolas e na ELI (Equipa Local de Intervenção Precoce na Infância)
Lista de espera
O MAPADI tem sempre lista de espera. Neste momento, são mais de cem os que aguardam por uma vaga. António Ramalho tem espaço e vontade, mas a ambição esbarra quase sempre nos muitos entraves do Estado.
Tratamentos
Foram os monges do Mosteiro de São Martinho de Tibães (Braga) que, no século XVIII, começaram a procurar a Póvoa para curar as maleitas nas águas do mar, ricas em iodo. Um século mais tarde, os "banhos quentes" eram já frequentemente receitados pelos médicos para curar reumatismo, artroses, tromboses, dores ciáticas e problemas no sistema nervoso. Havia gente de todo o norte do país.
O último a fechar
Abriu portas em 1915 e tinha como dono Francisco Manuel Pinheiro. Era o Balneário Povoense e foi o último a fechar. Tinha 14 cabines para banhos de imersão e uma sala de duches quentes. A água era captada do mar por um grande tubo, enterrado na areia e aquecida por cinco caldeiras a vapor.