Obras na via ainda não começaram. Se não estiverem feitas dentro de um ano, Mário Ferreira sai do projeto.
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O arranque da mobilidade turística no vale do Tua estava anunciado para agosto deste ano, mas é para esquecer. Nem o comboio vai apitar na linha entre Mirandela e Brunheda, nem o barco rabelo vai levantar amarras do cais desta aldeia de Carrazeda de Ansiães para fazer a ligação à barragem, junto à foz do rio. As obras de melhoramento da via-férrea ainda não começaram e Mário Ferreira, líder da empresa Mystic Tua, só espera mais um ano.
O dia 8 de fevereiro de 2019 foi rotulado como histórico. Depois de mais de três anos de avanços e recuos, eram assinados, em Vila Flor, os contratos das obras que falta fazer na via para pôr o comboio a andar. Só que, poucos dias depois, surgiram contrariedades relacionadas com a responsabilidade da execução dos trabalhos, que, está já decidido, vai ser assumida pela Agência de Desenvolvimento do Vale do Tua, liderada pelo autarca de Alijó, José Paredes.
"A nossa parte está toda feita e estamos prontos para pôr a região a mexer. Quando nos disserem que a linha está pronta, avançamos", diz, ao JN, Mário Ferreira, que assume uma grande "frustração" com a demora. "Estive para desistir este ano, porque achava que já era tempo a mais. Mas por consideração pelo presidente da agência e pelo administrador da EDP, decidi esperar mais um ano", revela.
Ultimato
Deixa, porém, um ultimato: "Se até antes do verão de 2020 não estiverem reunidas as condições para arrancar, transfiro o projeto e os equipamentos para a agência e ela que continue". É que, embora assegure que gosta de "levar os desafios até ao fim", este está a levá-lo "ao limite da paciência".
José Paredes, tal como os restantes autarcas do Vale (Carrazeda, Vila Flor, Murça e Mirandela), não está disposto a perder a oportunidade e está em campo para que as obras comecem o mais depressa possível. "Avançar com a mobilidade em agosto está já fora de hipótese", mas acalenta a esperança de ter tudo pronto a inaugurar "antes do final deste ano".
Esta semana foi a Lisboa fazer o ponto da situação ao secretário de Estado das Infraestruturas e requerer a "reativação do comité de acompanhamento do plano de mobilidade", que junta também a Infraestruturas de Portugal, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes e a CP - Comboios de Portugal. O objetivo é que "sigam os processos de licenciamento das obras" - a consolidação de taludes e a rede de monitorização de queda de pedras.
MUROS ESCONDIDOS
Mário Ferreira decidiu não executar mais obras no Vale do Tua depois de a CCDR-Norte ter instaurado um processo por causa da construção de muros de gabião num parque de estacionamento junto à estação da Brunheda, em Carrazeda de Ansiães. "Os nossos serviços jurídicos estão a tratar do assunto e estamos a acelerar a integração paisagística para atenuar os impactos", salienta.
CONSEQUÊNCIAS
Somar prejuízos
Mário Ferreira diz que a estrutura montada para o Tua teve, no ano passado, um prejuízo de "quase 600 mil euros". Este ano será menos. "Só voltamos a contratar pessoal quando for para arrancar a sério".
Mais promoção
Com tantos avanços e recuos, implementar o plano de mobilidade "não vai ser fácil". Mário Ferreira nota que vai ser preciso "investir em promoção para convencer as pessoas de que está a funcionar".