Batismo de voo: "Nunca pensei voar aos 90 anos. Lá de cima é a coisa mais linda"
Quarenta idosos e pessoas com deficiência de Monção experimentaram, este sábado, a maioria pela primeira vez, andar de avião.
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O aeródromo de Cerval, em Valença, foi este sábado, um palco de sonhos para cerca de 40 idosos e pessoas com deficiência de instituições de Monção.
Experimentaram, a maioria pela primeira vez, voar num ultraleve (2 lugares) ou avião ligeiro (4 lugares) e assistir a partir do céu às belezas da terra.
A iniciativa, organizada pela câmara de Monção e apoio do Aeroclube do Alto Minho, deixou os mais velhos e até os pilotos emocionados, tal foi a alegria que sentiram ao longo da experiência, que, em breve, deverá ser repetida com instituições de Valença e Vila Nova de Cerveira.
"Nunca pensei com 90 anos dar um passeio tão bonito. Vi muita coisa, a minha terra, Monção, Valença, vi Tui, Porriño e Santa Tecla (Espanha). Lá de cima é a coisa mais linda que pode haver", contou Noémia Gonçalves, de 90 anos de idade, foi das primeiras a subir a um ultraleve, logo que o nevoeiro que se fez sentir pela manhã, deu lugar a um sol radioso. Nunca tinha voado na vida.
"Nunca andei de avião. Foi a primeira vez aos 90 anos e nunca pensei. Foi uma experiência lindíssima e digo a todos, com esta idade, que voem. Foi muito sereninho. Não tive medo nenhum", disse.
Daniel Bugarin, de 77 anos, piloto há 30, foi quem guiou o voo de Noémia, "a 1500 pés de altura e uma velocidade de cerca de 200 quióletros/hora". "Foi a passageira mais velha que alguma vez levei a voar. Lá em cima, só dizia: "que bonito, que bonito", descreveu, comentando: "Nestas idades não há medo".
Preciosa Alves, 86 anos, ainda não tinha descido do ultraleve e já dizia: "Para o ano se for viva quero ir outra vez". Já com os pés em terra firme, contou que foi a sua estreia nos voos. "Gostei muito e não tive medo, mas vinha a rezar sozinha, para mim e para Deus. Pedi que fizessemos uma viagem boa, na graça do Senhor", disse.
Celeste Garcia, de 80 anos, de luto por uma filha de 41, que perdeu há poucos meses, não parava de sorrir, quando desceu da máquina que a levou ao céu.
"Hoje foi o melhor dia que tive. Gostei de ver o mar lá de cima. Vimos Monção, Caminha, muita coisa. Há muito que não sentia esta alegria", afirmou a também estreante na aviação. Maria do Carmo Ferreira, que já tinha andado de avião, quando foi a França. Quando chegou da aventura e desceu amparada por canadianas, sorriu e comentou: "Foi uma maravilha. Pena que foi poucochinho. Queria mais".
Carlos Silva, piloto e presidente do Aeroclube do Alto Minho, declarou que a experiência "é para ser repetida, brevemente com seniores de Valença e de Cerveira". E assumiu que também ele viveu este sábado um dia diferente.
"Esta-me a dar muito prazer voar hoje, porque sei que estou a fazer algo que vai para além daquilo que eu imaginaria, que algum dia pudesse vir a fazer, que é dar a estas pessoas uma alegria e uma oportunidade única de fazer um voo bonito", afirmou, considerando: "Está um dia espetacular para voar. Não há turbulência, não há nada. Parece que Deus abençoou até este dia".
No seu primeira voo, este sábado, levou três passageiras com idades na casa dos 80 anos, com dificuldades de locomoção, mas que lá em cima, a cerca de 400 metros de altura (1500 pés), voaram com facilidade. "Nenhuma mostrou medo. Fizeram muitas perguntas sobre o que estávamos a ver. Penso que na idade avançada, as pessoas já não têm medo", contou, concluindo: "Hoje estou felicíssimo e de coração cheio".
João Oliveira, vice-presidente e vereador da Ação Social da câmara de Monção, também presente na ação, rejubilou com a alegria dos 40 utentes de todas as IPSS (seis) daquele concelho. "Ainda agora uma senhora com 90 anos me estava a dizer que nunca pensou com 90 anos ter a possibilidade de voar e de ver a terra dela, Monção, lá de cima. É fantástico", referiu.