A vereadora da CDU na Câmara do Porto, Ilda Figueiredo, entende que a gestão do mercado do Bolhão deve estar “mais atenta às dificuldades dos comerciantes” e ser “mais aberta às suas propostas” de resolução dos problemas. Opinião deixada no final de uma visita ao renovado espaço, na manhã desta terça-feira.
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Embora considere que “a reconstrução do Bolhão foi muito importante”, o que a vereadora da CDU levou para casa depois da visita foi um saco cheio de queixas, que promete apresentar ao executivo liderado por Rui Moreira numa das próximas reuniões de Câmara. Ilda Figueiredo irá apelar a um “maior diálogo com os comerciantes” e à necessidade de se “atenuar os problemas” que enfrentam. Em paralelo, defende que a gestão do espaço, da responsabilidade da empresa municipal GO Porto, deve envolver os próprios vendedores.
“Não houve uma adaptação da arquitetura à realidade de cada atividade”, disse ao JN, a propósito de problemas relacionados, por exemplo, com a chuva ou com a incidência do sol em determinados produtos. “Em diversos sítios há problemas que os serviços municipais não resolveram e, em alguns casos, os comerciantes tiveram de os resolver”, acrescentou.
Entre as pessoas mais insatisfeitas estavam as vendedoras dos peixes congelados, cujas lojas estão por baixo da escadaria de acesso à Rua de Fernandes Tomás. “Estão metidas em cubículos que não têm janelas nem ar condicionado”, comentou Ilda Figueiredo, acrescentando que “não há suficiente divulgação da sua existência”. Por isso, entende que “deviam estar junto das bancas do peixe fresco, como acontecia antes das obras”.
“Aqui não vendemos nadinha”, dizia Ermelinda Lopes, responsável pela peixaria que tem o seu nome. Queixando-se de que o mercado “está virado para o turismo”, acusou outros comerciantes de estarem a transformar o Bolhão em “mini-restaurantes”, cozinhando nas bancas produtos iguais aos que ela vende, o que “está contra a lei” (regulamento do mercado).
Na Peixaria Lúcia, onde também se reclamava por outro espaço, alguns congelados estavam em expositores virados para o sol. Já na Peixaria Zaida Silva, as principais queixas tinham a ver com o aquecimento da zona onde estão os frigoríficos, devido à falta de ar condicionado, e com o facto de a loja estar num canto. “Não vejo os clientes, sequer. Estou aqui fechada por completo”, lamentou a vendedora.
Noutras zonas do mercado, reclamava-se melhores condições para as vendedoras estarem protegidas da chuva e do vento. Muitas pessoas queixavam-se das multas, outras apontavam o dedo ao pavimento que, dizem, já tem provocado quedas quando está molhado.
Tomadas elétricas junto a uma torneira e pouco espaço para abrir o frigorífico estavam entre as principais preocupações relatadas na Peixaria Bininha. A vendedora confessou-se “desiludida” com as condições do novo Bolhão, acrescentando às queixas o facto de ter uma banca muito pequena para preparar o peixe. “Tinha aqui dois rodovalhos grandes e vi-me à rasca para os arranjar”, contou.
Apesar de reconhecer que a GO Porto “tem feito coisas boas”, Miguel Costa, membro da associação Bolha de Água, que promoveu esta visita, entende que “os comerciantes deviam ser voz ativa na gestão do mercado”. E defende a resolução célere de problemas relacionados com “determinadas estruturas”, nomeadamente em relação à chuva e à exposição solar.
O JN questionou a GO Porto acerca das queixas. Em relação às multas, a empresa municipal refere que, muitas vezes, “resultam da infração do Regulamento do Mercado em situações em que, por exemplo, questões de segurança possam ser colocadas em causa”. No entanto, a entidade admite “que possam ser abertas exceções mediante uma solicitação, avaliação das circunstâncias e autorização prévia”.
A GO Porto garante que “tem mantido um estreito relacionamento com todos os comerciantes no sentido de encontrar novas soluções para as questões que cada um lhe tem apresentado, nomeadamente junto das bancas de congelados”. Em relação à temperatura elevada nestes espaços, refere que já foi feito “um levantamento de todos os equipamentos necessários para a climatização otimizada”, estando em curso um processo de contratação com vista à implementação de aparelhos de ar condicionado.
Por outro lado, a entidade refere que foi reforçada a sinalética das bancas de congelados, estando a concluir “uma solução que visa criar espaços de exposição de produto no seu exterior, de forma a melhorar a visibilidade”. No que diz respeito às melhorias em termos de proteções – face ao sol e face à chuva, nas bancas laterais e de topo –, a GO Porto disse-nos que “já foi encontrada uma solução adequada a estes espaços e pré-validada por entidades competentes, um procedimento que também se encontra em curso”.
Mostrando-se disponível para ir ao encontro das “necessidades de todos e de cada um”, a empresa lembra que os procedimentos inerentes à contratação pública estão sujeitos a timings que, “muitas vezes, não permitem uma resposta com a celeridade pretendida”.
Por fim, foi referido ao JN que, tendo passado um ano de operação do renovado mercado, está a ser estudada "uma proposta de revisão ao regulamento para que este se adeque melhor à sua realidade".