Emanuel Cunha, bombeiro profissional, evitou morte de criança em piscina, durante as férias no México. Do ato heroico nasceu uma amizade que perdura com família norte-americana.
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Atravessou o Atlântico como um desconhecido, regressou como um herói. Não por conquistar uma taça ou uma medalha olímpica, mas por ter salvo da morte por afogamento um menino norte-americano, de quatro anos, numa piscina de um hotel em Cancún, no México. Mesmo não sendo muito experiente, Emanuel Cunha, de 31 anos, aplicou os conhecimentos que tem da sua formação de bombeiro profissional, juntou-lhe a coragem e, sobretudo, o sangue frio para atuar num ambiente de stress máximo, rodeado de gente que gritava e chorava em desespero ao ver a criança inanimada.
Foi a 20 de junho, quando Emanuel gozava a primeira manhã - que imaginava tranquila - de férias no resort mexicano que tudo aconteceu. Com ele estavam amigos e a mulher, Filipa Feixeira, grávida de cinco meses, o que ajuda a compreender a emoção que ainda hoje sente. "Salvar o menino foi como ser pai por antecipação", desabafa ao JN. "Não foi pôr uma vida no Mundo, mas permitir que uma cá continuasse", acrescenta, sentado num banco do quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, na Encarnação, onde exerce a sua atividade.
O jovem bombeiro recorda que nem "estava para ir à piscina", e que só foi porque um amigo queria tirar "a primeira selfie das férias". "Foi Deus que me pôs naquele lugar", diz, com fé.
Depois, a aflição. "Ouvi gritos, vi o pai a retirar o menino da água. Percebi logo que estava inanimado e tirei-lho dos braços", descreve. Entraram em cena o saber e a coragem. "Foi a primeira vez que fiz manobras de suporte básico de vida, num ambiente de grande pressão, em que toda a gente gritava e chorava à minha volta", conta.
Herói em lágrimas
O momento de glória chegou quando conseguiu reverter a situação e o pequeno Bryssen recuperou os sentidos. "Desatei a chorar quando o vi voltar à vida", recorda, ainda emocionado.
O menino foi transportado ao hospital, regressou no dia seguinte, mas as férias de Emanuel e da família do Ohio não seriam as mesmas. "Naquela noite, não dormi e só voltei a descansar quando o vi de volta e sem sequelas", refere, dando conta da gratidão enorme dos pais de Bryssen.
"Já passou mais de um mês e mantemos um contacto quase diário, através das redes sociais. Eles convidaram-nos para os visitar nos Estados Unidos, e querem enviar uma prenda para o nosso Francisquinho [o filho que vai nascer lá para o final do ano]", revela.
Emanuel Cunha sublinha que este é o exemplo de que por baixo da farda de bombeiro há sempre um homem. "Nem pensei duas vezes. Enquanto humanos, temos sempre de ajudar os outros."
Emanuel Cunha
Idade: 31 anos
Cargo: Bombeiro sapador
Emanuel Cunha nasceu em Lisboa, onde estudou até ao 12.º ano. Ingressou então na Força Aérea até concorrer ao Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, onde entrou em 2018 e onde trabalha atualmente. Casado com Filipa Feixeira, aguarda o nascimento do primeiro filho.