Voluntários do Porto e sócios acusam presidente de tomada de posse ilegal e gestão danosa e pedem ajuda às autoridades. Associação alvo de inspeção em novembro.
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Elementos dos Bombeiros Voluntários do Porto e sócios entregaram há dias no Departamento de Investigação e Ação Penal do Porto (DIAP) "matéria potencialmente de foro criminal" contra a atual direção da instituição. Além do "despedimento ilícito de trabalhadores da associação", os queixosos denunciam que o presidente, Gustavo Pereira, "tomou de assalto a direção sem conhecimento de ninguém". A mesma denúncia foi enviada à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
Com o despedimento de sete bombeiros contratados - incluindo José Carlos Coelho, que ocupa funções de comandante - e de dois centralistas, que atendem as chamadas, o socorro da população "está dependente da boa vontade dos voluntários", assume ao JN o comandante.
"Há dias em que a ambulância do INEM, por falta de tripulantes, não sai do quartel. Da mesma forma que não conseguimos dar resposta a casos covid-19 confirmados, por não termos assegurada uma área de sujos, indispensável para desinfetar as viaturas", referiu Paula Silva, uma das bombeiras que foi despedida, muito embora continue a assegurar o trabalho como voluntária.
"Não sei com que intuito é que existe uma perseguição por parte da direção aos bombeiros, mas uma coisa é certa: o presidente nunca se apresentou ao corpo ativo, nem aos sócios, e houve irregularidades na sua tomada de posse", vincou José Carlos Coelho.
Contudo, "o mais grave" para o comandante foi Gustavo Pereira ter feito desaparecer "os equipamentos de proteção individual dos bombeiros, assim como os rádios e os aparelhos respiratórios das viaturas de socorro, sem os quais os bombeiros não podem atender a qualquer ocorrência".
Auditoria no quartel
Em novembro, houve uma deslocação ao quartel de um técnico "da Inspeção de Serviços de Emergência e Proteção Civil e de um técnico da Direção Nacional de Bombeiros para uma inspeção, em que ainda que notificados previamente, não compareceu qualquer elemento da direção", fez saber fonte da ANEPC.
De resto, o JN sabe que estas conclusões foram encaminhadas para o Ministério Público para averiguar da existência de algum crime.
Na opinião de Miguel Castro, advogado de um dos bombeiros, "será urgente realizar uma auditoria para averiguar como o dinheiro tem sido usado".
É que no rol de acusações consta ainda "uma ida à Alemanha do presidente e do tesoureiro da direção, para comprar uma ambulância que, embora tenha sido paga pela associação, nunca foi entregue".
Os bombeiros contratados que foram despedidos vivem neste "permanente conflito há mais de um ano" e passam por "sérias dificuldades". Paula Silva pede às autoridades que ouçam o pedido de ajuda: "Hoje, são os bombeiros que pedem socorro", desabafou, em lágrimas.
Mário Lino, 49 anos, "sócio n.º 4219", não tem dúvidas de que "há uma violação flagrante dos estatutos, uma vez que nem sequer foi convocada uma assembleia geral para aprovação do plano de orçamento para 2020 e aprovação do relatório de 2019", e desafia Gustavo Pereira "a ir a eleições".
Jaime Madureira, que em 2019 ocupava o cargo como presidente da direção da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto, confirmou ao JN que "houve, nesse ano, uma assembleia destituinte sem convocar ninguém, à revelia" e que "só numa ida ao banco" ficou a saber que "já não fazia parte" da associação.
O JN pediu um esclarecimento a Gustavo Pereira que, embora tenha pedido para enviar as questões por email, não respondeu em tempo útil.
Contactado o INEM, fonte deste organismo referiu que a ambulância "tem assegurado os serviços solicitados", apresentando uma casuística elevada, com um total de 2997 acionamentos em 2020. Já a Câmara do Porto respondeu que as questões relativas à corporação "deverão ser dirigidas à tutela".
9 funcionários, de um total de 30, entre os quais sete bombeiros e dois centralistas, foram despedidos com base em processos disciplinares. Entre eles, o comandante, José Carlos Coelho, que nunca havia passado por tal em 17 anos de bombeiro.