Anda de muletas, não tem dinheiro nem comida. Vive com o que lhe dão, toma banho em balneários públicos e diz que só quer ajuda para recomeçar.
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"Só queria ter comida e um teto", atira Tim Solan de lágrimas nos olhos. O cidadão britânico, de 60 anos, está há seis meses a viver no carro na marginal de Vila do Conde.
Só consegue andar apoiado numa muleta, não tem dinheiro nem casa nem comida. Garante que tem ações numa multinacional farmacêutica, que já bateu a todas as portas e ninguém o ajuda.
"Não tenho nada em Inglaterra. Quero ficar em Portugal", diz, enquanto vai contando a história de uma vida que mudou "do dia para a noite".
Tim Solan vivia em Inglaterra. Casou, teve dois filhos, era dono de um bar/restaurante, pagava impostos. Um dia, há meia dúzia de anos, a vida mudou. Apaixonou-se, separou-se da primeira mulher, desfez-se do bar e acabou por ir viver para a Letónia, a terra natal da segunda companheira. Iam gerir uma pequena quinta de família, mas o que parecia um sonho depressa se transformou num pesadelo. Acabou por deixar a Letónia dois anos depois e, sem ter para onde ir, comprou um carro e rumou a Portugal. Costumava vir de férias ao país do "bom clima, boa comida e gente simpática". Arriscou.
casa de férias
Chegou a 23 de dezembro de 2020. Ficou instalado numa casa de férias, mas, em abril, o dinheiro acabou e Tim ficou na rua.
Garante que tem ações de uma multinacional farmacêutica. Só queria vendê-las e receber o dinheiro. "Escrevo-lhes todos os dias", diz, mostrando a troca de e-mails.
Há uns anos, um acidente deixou-o com uma incapacidade numa perna. Tem uma prótese. Anda com a ajuda de uma muleta e, mesmo assim, a mancar. Com a idade e com o frio, tem vindo a piorar.
Apesar do desespero, explica, tenta manter-se "limpo e com dignidade": Todos os dias põe o saco-cama a apanhar sol na vedação que, por ali, delimita a zona dunar, toma banho no balneário do parque de ténis, uma vez por semana lava a roupa, vai comendo "por caridade" num restaurante da cidade, onde carrega também o tablet - a sua única companhia. O carro avariou e já nem sequer o consegue ligar para aquecer as noites.
Foi a Inglaterra e voltou
"Fui à embaixada e, em junho, enviaram-me para Inglaterra. Fui atacado na rua e acabei no hospital", conta. Acabou por voltar, mas cá, não sendo cidadão português, "tudo é difícil".
As autoridades policiais sabem que está ali, os serviços sociais também, mas ajuda não tem. "É triste, muito triste", remata.
Saiba mais
800 ações da GSK
"Tenho 800 ações da GlaxoSmythKline (GSK), uma multinacional farmacêutica britânica, que herdei do meu padrasto. Só queria o meu dinheiro", afirma, explicando que encarregou da venda uma mediadora - a Equiniti -, mas, até agora, não viu "um cêntimo".
Reforma por invalidez
Tim Solan teria, provavelmente, direito a uma reforma por invalidez no seu país de origem, dada a idade e a incapacidade que tem numa perna, mas, sem residência em Inglaterra há três anos, também não a consegue requerer.
