Projetadas pelo menos 13 travessias sobre o Douro que nunca saíram do papel. Raras foram as que reuniram consenso.
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Se dúvidas ainda houvesse quanto à necessidade de mais pontes entre o Porto e Gaia, Álvaro Domingues deita-as por terra. "Quanto mais permeável for uma rede, melhor", nota o geógrafo. Mas o debate não é de agora. Só neste século, já foram projetadas ou anunciadas pelo menos 13 travessias entre as duas cidades (12 pontes e um túnel) que, além de nunca terem saído do papel, raramente reuniram consenso. "Haverá sempre uma ponte que, para a população, vai onde não devia ir", observa Germano Silva, jornalista e historiador do Porto. Mas o engenheiro civil e especialista em transportes Álvaro Costa diz que todas são possíveis de construir. A sua concretização depende de "opções de cidade" e de desenvolvimento do território, sendo certo que a rede de transporte público só conseguirá alargar-se com novas travessias para o servir.
A verdade é que "cada ponte foi um ataque de nervos" para o Porto, observa Álvaro Domingues. Até a Ponte do Infante fez, a determinada altura, parte da controvérsia. "Criou perplexidade porque acaba nas Fontainhas. Como é a "Meca" do São João, houve preocupação e protestos. Dizia-se que o São João da Fontainhas ia acabar. Mas, afinal, ela construiu-se e não houve grande problema", acrescenta Germano Silva.
Entre a estética e a função
A primeira discussão deste século centrou-se numa travessia pedonal paralela à Ponte de Luís I. "O projeto chegou a ser apresentado na Ribeira [do Porto], "com pompa e circunstância" e com todas as figuras da cidade presentes. Mas como ficava encostada à Luís I, não fazia sentido e acabou por não ir avante", recorda Germano. "Foi uma discussão puramente estética", observa Álvaro Domingues.
A construção de uma eventual travessia pedonal foi, em tempos, muito debatida, mas só faria sentido, aponta Álvaro Costa, "se a função rodoviária do tabuleiro inferior da Ponte de Luís I fosse mantida". "Se passar a ser pedonal, que é sobre isso que se fala, não faz sentido. Não acho que as pontes sejam propriamente difíceis de construir, qualquer uma delas", acrescenta o engenheiro civil. "Muitos destes projetos têm a ver com opções de política. Ter ou não uma ponte em frente à Ribeira, ou ao lado, é uma opção da cidade. Já da nova ponte do metro, precisamos dela", reforça.
Adão da Fonseca, engenheiro civil, assinou este e mais um conjunto de projetos para travessias sobre o Douro que nunca foram construídas [ler texto ao lado]. E muitos destes projetos foram estudados a pedido de decisores políticos. À data, por Luís Filipe Menezes, enquanto presidente da Câmara de Gaia.
"Não é um assunto que possa discutir-se de ânimo leve. Cada uma levanta questões muito específicas", aponta Álvaro Domingues, com a certeza de que "quanto mais permeável for uma rede, melhor" e se existe um obstáculo como o rio Douro, "que perturba a conectividade", são precisas novas ligações.
Um projeto não construído é pena, mas está o trabalho feito
Sem frustrações perante o acumular de projetos que assinou de pontes sobre o Douro mas que não saíram do papel, Adão da Fonseca reconhece que, "muitas vezes, comete-se o erro de não estudar bem o que se quer". O engenheiro civil celebrou seis contratos entre 2000 e 2010 para estudar travessias entre o Porto e Gaia. Dessas, nenhuma foi construída. O autor da Ponte do Infante, inaugurada em 2003, reconhece que "em qualquer cidade" construir novas travessias sobre o rio "não é fácil" e rejeita qualquer "frustração mental".
"Um projeto não construído é pena, mas está o trabalho feito. Se as pessoas não querem, não querem", conforma-se o engenheiro civil, recordando a primeira ponte pedonal, em aço inox, que idealizou junto à Ponte de Luís I. "Quando Rui Rio foi eleito presidente da Câmara do Porto, não considerou o projeto prioritário", refere, não deixando de relembrar as "vozes dissonantes" que "não gostavam de ter uma ponte encostada à Luís I".
"Nunca é fácil"
Houve um projeto para outra travessia pedonal, que fazia "uma curva e essa foi muito celebrada". Já antes disso o engenheiro tinha assinado um contrato com os dois municípios, Universidade e Metro do Porto para estudar duas pontes: uma para o metro e outra para a alta velocidade, com estação na Boavista. Foram apresentados os projetos e, "afinal, queriam que fosse em Campanhã".
Admitindo que "nunca é fácil construir o que quer que seja numa zona urbanizada", Adão da Fonseca reconhece a importância de "pensar muito bem" onde nascerá uma nova ponte, uma vez que são uma peça "fundamental" para o desenvolvimento económico da Área Metropolitana.
Em curso
Nova linha de metro
A segunda ligação de metro a Gaia obrigará à construção de uma nova ponte entre o Campo Alegre, no Porto, e a Arrábida, em Gaia.
Para o TGV
O projeto de linha de alta velocidade entre o Porto e Lisboa prevê uma nova travessia junto à Ponte de S. João.
Ponte rodoviária
A ponte do TGV absorverá um tabuleiro rodoviário. A Ponte D. António Francisco dos Santos, entre o Areinho e Campanhã, não deverá avançar.