Peregrinação é a maior da região e o número de fiéis tem vindo a crescer. Andor é carregado em braços por pescadores ao longo de sete quilómetros.
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“É uma tradição muito bonita!”, diz Fabiana Arteiro, olhando em volta a multidão que, avenida a cima, continua a chegar ao Santuário da Senhora da Saúde, em Laundos, Póvoa de Varzim. “Todos os anos é assim”: novos, velhos, famílias inteiras, mães com filhos bebés, gente de muletas, descalça, com terços e velas nas mãos. Uns vêm a cumprir promessa, outros simplesmente por fé. Percorreram a pé sete quilómetros para “levar a Senhora a casa”. Contas feitas, foram cerca de 50 mil. Em Laundos, diz-se que, desde a pandemia, vem cada vez mais gente. É a maior peregrinação da região. Acontece sempre no último domingo de maio, há 77 anos.
Na família de Fabiana são “mais de dez”. Vêem todos juntos, desde o centro da cidade até à pequena freguesia de Laundos, ali já colada ao concelho de Barcelos. A “tradição” começa “de pequeninos” e vai passando, de geração em geração, de pais para filhos.
Sairam atrás do andor – carregado em braços por pescador -, às 9 horas, da Igreja Matriz, no centro da cidade. Depois, são duas horas a andar e “um rio de gente, que vai engrossando pelo caminho”. A chegada do andor a Laundos, é “linda, linda!”. A multidão bate palmas, atira flores, chora, entoa cânticos de louvor.
Depois, Fabiana e a família assistem à missa campal, entram na igreja para ver o tapete de flores que cobre o altar e, no final, seguem a pé de volta a casa. “Quando se vem com fé, não custa nada”, sentencia, sem hesitar.
Junto ao adro da igreja, uns compram velas. Têm forma de pés, cabeça, estômago, fígado, braços e tudo o mais que possa precisar de cura. À volta do templo, há quem, de joelhos, cumpra promessas. Seguem em silêncio ou, terço na mão, a rezar baixinho. A fé na Senhora da Saúde é sentida. Está estampada em cada rosto.
Ali, ao lado, Rosa Vieira montou a habitual banca. “A tradição é vir à Senhora da Saúde e comprar cerejas”, explica, sorrindo. A cereja está cara – conforme o tamanho, a 6,5, 8 e 12 euros -, mas, ainda assim, não pára de chegar gente. Rosa não tem mãos a medir. Começou a chegar gente ainda antes das 7 horas. A mulher tem 72 anos. Já perdeu a conta aos anos que leva a cumprir “o ritual”. “Desde a pandemia, acho que tem havido mais gente”, remata ela, que, nascida e criada em Laundos, é devota da “Senhora”. Os tempos estão difíceis e, no “aperto”, todos se amarram à fé.