<p>Há dois anos os vizinhos alertaram as autoridades para o perigoso cenário em que vivia Pedro Parra, numa casa imunda com 20 animais. Mas pouco ou nada foi feito. Este domingo, o octogenário foi encontrado morto e já sem partes do corpo.</p>
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Desde quarta-feira passada que os vizinhos e as funcionárias de uma instituição de solidariedade social não punham os olhos em cima de Pedro Parra, com 86 anos, que há cerca de 15 vivia isolado numa casa que começou a construir mas que nunca acabou, na Rua do Bom Humor, em Vialonga (Vila Franca de Xira). Alertada pela população, a filha acabou por descobrir, anteontem ao fim da tarde, o pai sem vida e com parte dos membros superiores e inferiores devorados pelos quatro cães famintos, acolhidos pelo idoso.
O cadáver estava numa das salas da moradia, junto à porta da entrada, e as autoridades acreditam que possa ter sido também atacado por ratazanas. Os cães foram levados para o canil municipal de Vila Franca de Xira, para permitir a identificação daquele que terá desfeito o corpo. Porém, um cão mais pequeno, dada a quantidade de lixo existente na moradia, ter-se-á escondido do veterinário municipal e ontem acabou por aparecer aos vizinhos da vítima.
Segundo Cláudia Pinheiro, uma das moradoras que, em 2006, denunciou ao JN o perigo em que se encontrava o octogenário e o risco de alguns dos cães atacarem os vizinhos, Pedro Parra tinha colocado há dias uma porta em alumínio na casa, impedindo a saída dos animais. "Foi das últimas vezes que o vimos. Mas como ele era uma pessoa muito difícil e raramente saía à rua, nem desconfiávamos que estivesse morto", descreveu.
Na sexta-feira, as duas funcionárias da Associação de Bem-estar Infantil de Vialonga, com quem a Junta de Freguesia tinha protocolado um apoio domiciliário ao idoso, encontraram no pátio da moradia intacta a marmita com comida, que havia ali ficado na quarta-feira. Só no domingo é que a filha do idoso - que a população acusa de ter abandonado o pai - foi alertada para aquele facto. "Telefonámos-lhe de manhã mas ela só apareceu pelas 15 horas. Também chamámos o INEM, que não veio e mais tarde quando os voltámos a contactar até nos disseram que já cá tinham estado e levado o idoso para o Hospital de Vila Franca de Xira", disse Cláudia Pinheiro, acusando a Junta de Freguesia de "pouco ou nada ter feito, nestes dois anos", após um abaixo-assinado realizado pelos moradores (ver caixa).
O corpo foi levado pelos bombeiros de Vialonga para a Morgue do Hospital de Vila Franca. Tal como em 2006, o JN tentou obter um comentário de Teresa Parra, filha da vítima, mas esta voltou a estar incontactável.