O antigo "O Nosso Café", no centro de Espinho, fechado há sete anos, está a servir de tecto a sem-abrigo e a toxicodependentes. Aliás, está referenciado, há muito, como ponto de venda de droga. O edifício está em risco de derrocada, como alertam os avisos colocados.
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Os avisos foram mandados colocar recentemente pelo proprietário, enquanto não arranca com um projecto imobiliário de luxo.
O local está há muito referenciado como ponto de venda de droga. Basta ver o vaivém de gente que, apesar dos gradeamentos, das telas e das chapas onduladas, entra e sai pelas traseiras do edifício. Uma situação que se verifica praticamente desde que foi demolido o prédio contíguo ao "Nosso Café", com frente para a Rua 21, onde funcionou o restaurante "Cartuxa" e o bar "Mix".
"A cave, a antiga sala de bilhares do café, deve ser onde eles dormem, porque foi para lá que ainda há uns tempos vi passar dois homens com um colchão", contou um morador, que preferiu não se identificar com receio de represálias. "O pior é que cá fora eles estão a criar uma autêntica lixeira, que só serve para atrair ratos", continuou. Outro morador, também sob anonimato, disse que o dono do edifício até tentou, recentemente, vedar melhor a propriedade. "Mas é gente nova e, por isso, conseguem saltar lá para dentro na mesma", acrescentou.
Questionada sobre o assunto, fonte da Câmara admitiu que o caso é conhecido, mas que cabe à Polícia pôr termo à situação.
Por altura das festas em honra da Senhora da Ajuda, o proprietário mandou colar nas paredes exteriores cartazes de aviso do perigo de derrocada e de acesso proibido. Segundo fonte próxima de Manuel Salgueiro, o proprietário, e também a própria Câmara, os cartazes também foram colocados para evitar a entrada de pessoas que pretendessem aventurar-se nas varandas do prédio para assistir ao recente concerto de Tony Carreira.
O imóvel, tal como está, tem sido fonte de desgosto para os que ainda guardam memórias do velho café, datado de 1958. "Funcionava quase como uma bolsa de valores, no tempo em que existiam acções ao portador. O café era um ponto de encontro de grandes homens de negócio", recorda Manuel Fonseca, antigo accionista da Sociedade Caféeira dos Cem, proprietária de "O Nosso Café". "Aos domingos, era ver as filas de gente para entrar", conta.
Ainda são muitos os que recordam as festas e os bailes que tinham lugar no primeiro andar, no mesmo local onde se reuniam multidões para ver televisão. Nos últimos anos, o café funcionava como uma verdadeira sala de estar. Num lado, as senhoras a fazer croché, noutro, os homens a discutir política ou futebol, e, lá num canto, os poucos jovens que apareciam, a ter explicações de Matemática com o professor Pias.
Quanto ao futuro, o proprietário conta arrancar com a restruturação do edifício no início de 2011, transformando-o em habitações de luxo e espaços comerciais.