O primeiro café onde trabalham pessoas com estes distúrbios cognitivos foi inaugurado em Lisboa. A ideia é quebrar preconceitos e inspirar.
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Quando acabam a escola vão para instituições, se estas tiverem vaga, ficando desde cedo o futuro profissional adiado. Para desconstruir preconceitos e mostrar que pessoas com trissomia 21 ou autismo podem ter um papel ativo na sociedade, integrando-as, foi inaugurado, ontem, um café onde metade dos funcionários tem este tipo de perturbações de desenvolvimento intelectual. Lisboa é a primeira cidade onde o Café Joyeux abre fora de França, onde nasceu em 2017 e já existe em três cidades. Abre ao público depois de amanhã.
Carolina Rosa, 21 anos, com trissomia 21, não consegue esconder a ansiedade. É a primeira vez que vai trabalhar no atendimento direto ao público, mas o maior medo é que se engane nos trocos. "É preciso fazer mais contas. Fazer bolachas e servir cafés vai ser mais fácil", confidencia ao JN.
David Silva, 25 anos, com síndrome de Asperger, já fez alguns estágios em hotéis, mas nunca teve um contrato. "Aqui vou ter essa oportunidade, estou motivado", partilha.
A ideia da criação do café Joyeux partiu de Yann Bucaille depois de Theo, jovem de 21 anos, lhe ter perguntado se lhe arranjava emprego. Yann disse-lhe que não e, insatisfeito com a reação de Theo, decidiu criar o projeto de formação e emprego para pessoas com deficiência cognitiva em França.
Francês convencido
Filipa Pinto Coelho, mãe de uma criança com trissomia 21, desde cedo começou a tentar perceber o que já se fazia na Europa nesta área até chegar ao contacto com Yann e convencê-lo a abrir um café cá.
Em pouco tempo o sonho tornou-se realidade e, nos próximos três meses, nove pessoas com este tipo de distúrbio vão ter uma bolsa de formação e depois um contrato. "Cada um vai ser melhor naquilo que tiver mais capacidade. São pessoas muito altruístas, com muita vontade de aprender, o que torna o processo mais fácil", explica Filipa, também presidente da Associação VilacomVida, criada para promover a autonomia destes jovens e que representa agora o franchising da marca Joyeux em Portugal.
Filipa alerta para o facto de "o Estado gastar 38 milhões de euros anuais com estes jovens, em Centros de Atividade Ocupacionais, que poderiam ser usados para os capacitar num contexto inclusivo". "Esperamos que o Estado olhe para o Joyeux e perceba que o modelo que usa para formar e integrar pessoas com deficiência não está atualizado ao nível das capacidades que elas têm. Em ambiente protegido não adquirem tão facilmente algumas competências".