Populações criticam estado em que se encontra a Estrada Nacional 228 em Vouzela. Bombeiros preocupados com o socorro. Câmara exige do Governo intervenção urgente .
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Quase dois anos depois da passagem da tempestade Elsa, a Estrada Nacional (EN) 228 em Vouzela continua por arranjar, apresentando vários perigos para os automobilistas que nela circulam. Depois do temporal, devido às derrocadas registadas, a via esteve encerrada ao trânsito cerca de um ano.
A Infraestruturas de Portugal (IP) chegou a fazer algumas obras, mas há ainda muito por fazer, alertam a Câmara e os habitantes das aldeias servidas pelo caminho. Para além das constantes quedas de pedras, há duas zonas no traçado em que só se circula num sentido, obrigando os automóveis a parar sempre que dois veículos se encontram na faixa de rodagem. Nestes locais, os taludes cederam e ainda não foram arranjados.
"A estrada está uma miséria. Se chover muito, corremos o risco de ficar debaixo de penedos. Podemos ficar soterrados ali", denuncia Felisberto Santos. Este morador de Fataunços defende que a via já devia ter sofrido uma intervenção de fundo. "Há muita gente que vai para Viseu e que já não circula ali porque tem medo", acrescenta.
Ravina que pode desabar
Também José Chaves, igualmente de Fataunços, se queixa do estado da EN 228 que, sustenta, "está perigosa". "Tem uma ravina muito grande e de repente pode desabar tudo. Eu passo lá, mas com um bocadinho de receio", admite.
Na aldeia de Vasconha as opiniões não são diferentes. Aristides Gomes considera "inadmissível que a via continue" por requalificar. "É uma grande vergonha a forma como isto se encontra", salienta. Óscar Fernandes partilha as críticas e aponta o dedo aos governantes. "Se houver um inverno mais rigoroso estamos sujeitos a uma desgraça e o português só deita as mãos à cabeça quando morre alguém", critica.
Quando a EN 228 esteve encerrada, os habitantes de Vasconha e de aldeias vizinhas eram obrigados a fazer mais de sete quilómetros, por um desvio, para se deslocarem à sede do concelho. Na povoação ninguém quer que o cenário se repita, ainda que todos temam que isso possa voltar a acontecer.
Os Bombeiros Voluntários de Vouzela partilham a apreensão dos utilizadores da EN228. O comandante da corporação, Joaquim Tavares, considera que a via apresenta duas grandes preocupações. O primeiro perigo prende-se com o risco de derrocadas. "As pedras podem soltar-se e atingir uma viatura. Pode causar uma desgraça a algumas famílias", avisa o dirigente dos bombeiros.
A segunda preocupação está relacionada com o próprio socorro. Segundo o operacional, a EN 228 "é prioritária" para os bombeiros, permitindo um socorro mais rápido a várias aldeias, como Vasconha, Queirã ou Loumão. "Se essa estrada ficar interrompida, o socorro perde no mínimo entre 12 e 15 minutos", explica.
Apesar de não se terem registado ainda acidentes, Joaquim Tavares defende que o Estado já devia ter olhado para o caminho "com outros olhos".
20 pontos críticos
A EN 228 apresenta problemas em 20 locais que precisam de ser resolvidos com urgência. Este é o entender da Câmara, bombeiros e populações. A via sofreu várias derrocadas com a tempestade Elsa, há dois anos .
"Nova Borba"
O presidente da Câmara de Vouzela, Rui Ladeira, sustenta que se nada for feito a EN 228 pode transformar-se numa "nova Borba", estrada no Alentejo onde uma derrocada em novembro de 2018 tirou a vida a cinco pessoas.