Maria Manuel Cruz, nova presidente da Câmara de Espinho, já embargou 15 obras em mês e meio. Autarca quer recuperar a credibilidade do município.
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A nova presidente da Câmara de Espinho quer recuperar a credibilidade da autarquia. Maria Manuel Cruz assume a necessidade de implementar um "trabalho duro de limpeza" e nas sete semanas que leva na liderança do município já embargou 15 obras.
Eleita em terceiro lugar nas listas do PS, passou a chefiar o Executivo após a detenção e consequente renúncia do anterior presidente Miguel Reis, por suspeitas de corrupção. O número dois, Álvaro Monteiro, disse não conseguir conciliar a profissão (médico) com a presidência.
"Quem me conhece sabe que sou uma mulher de luta, de convicções fortes e resiliente", afirma, ao JN, a atual presidente, garantindo que "o foco, neste momento", "passa por blindar e garantir a integridade da instituição, repondo o bom nome da autarquia e restabelecendo a confiança na Câmara Municipal".
Perante as suspeitas de corrupção e de outros crimes económico-financeiros que levaram à detenção do anterior presidente e causaram sério abalo junto dos espinhenses, Maria Manuel Cruz assume que "a credibilidade e a confiança não se recuperam apenas com palavras ou intenções, mas sim com ações concretas, com uma postura de integridade e uma gestão rigorosa, transparente e dialogante". "Há um trabalho duro de limpeza, clarificação e regularização que é preciso ser feito e eu estou disponível para o fazer, independentemente de ser popular ou não. É isso que faremos e é com isso que os cidadãos podem contar", destaca.
"Revisão interna"
No dia de tomada de posse, 16 de janeiro, anunciou uma auditoria à câmara, que pretende "levar até às últimas consequências", iniciando também "uma revisão interna de todos os processos que foram noticiados". Maria Manuel Cruz deu ainda a conhecer a elaboração de "um código de conduta robusto", assim como a "revisão das situações de acumulação de funções". E a intenção de "acelerar o processo de digitalização e desmaterialização do atendimento e serviço de Urbanismo", este último alvo das investigações da PJ.
A autarca garante que foram "intensificadas" as ações de fiscalização: "Só até ao final do mês de fevereiro já procedemos a um número de embargo de obras correspondente a metade de todos aqueles que foram efetuados em 2022". O JN apurou que foram embargadas cerca de 15 obras desde a sua tomada de posse.
A presidente afirma que o atual Executivo municipal e as suas linhas de ação "são fruto de uma equipa e de um projeto comum" que, "para além de estarem devidamente legitimados, terão continuidade".
"O intenso planeamento que fizemos ao longo dos últimos meses dá-nos estabilidade, tranquilidade e a confiança de termos lançadas as sementes do futuro que queremos construir", assinala.
Com as grandes empreitadas, como a Requalificação do Canal Ferroviário de Espinho (ReCaFe) e a construção do estádio municipal, a arrastarem-se no tempo, a autarca justifica: são "processos bastante complicados e onde houve necessidade de corrigir vários erros que herdámos do anterior ciclo autárquico".
"Situações peculiares"
Na intervenção no ReCaFe, já foi dado início "aos procedimentos de vistoria para a receção da obra" e a empreitada do estádio municipal "está em curso", pormenoriza. "São dois dossiês complexos, que acompanhamos com proximidade e onde encontrámos situações peculiares, que no tempo e nas instâncias apropriadas serão devidamente auditadas e reavaliadas", promete a presidente da autarquia.
"Não foi tarefa fácil, mas já encerrámos a empreitada de requalificação da Escola Sá Couto e é uma questão de dias para que a obra da entrada norte da cidade fique também terminada", acrescenta Maria Manuel Cruz.
"Assumi esta missão [presidente da câmara] com um enorme sentido de responsabilidade e com muita dedicação para trabalhar, com todo o empenho, rigor e seriedade, naquele que é e deve ser o nosso principal objetivo - construir um futuro melhor para Espinho e para os espinhenses", conclui.
Perfil
Maria Manuel Cruz nasceu em Espinho há 63 anos. É professora de Física e Química, com mais de 36 anos ao serviço da escola pública. Antes de tomar posse como presidente, Maria Manuel Cruz ocupava o terceiro lugar nas listas do PS nas eleições autárquicas de 2021 e tinha a seu cargo os pelouros da Educação, Cultura, Ambiente e Modernização Administrativa. Passou a assumir a presidência depois da renúncia de Miguel Reis e de Álvaro Monteiro, número dois da lista, que exercia funções de vice-presidente da autarquia em regime de não permanência e que justificou a decisão com a impossibilidade de compatibilizar as respetivas funções com a sua atividade profissional, enquanto médico.
Prioridades
Saúde e Educação
Maria Manuel Cruz pretende "garantir habitação digna e acessível, melhorar os serviços de saúde e educação" e "reforçar a rede de transportes e as soluções de mobilidade. Está prevista a requalificação dos espaços e equipamentos públicos, "nomeadamente na rede viária, nos equipamentos municipais, no sistema de limpeza urbana e recolha de resíduos e na manutenção dos espaços verdes".
Atrair gente
Com boa parte do mandato por cumprir, a autarca anuncia "reformas na eficiência energética e hídrica" e quer "delinear estratégias para um crescimento demográfico no concelho", aumentando a "atratividade para quem queira viver, trabalhar, estudar ou visitar Espinho".
Investigação
Miguel Reis foi detido e renunciou à presidência
Miguel Reis está detido preventivamente na prisão anexa à PJ do Porto. no âmbito da Operação Vórtex. Renunciou à presidência após ter sido envolvido numa investigação sobre corrupção, implicando interesses imobiliários. De acordo com a PJ, é suspeito de corrupção e de outros crimes económico-financeiros, alegadamente, "em projetos imobiliários e respetivo licenciamento, respeitantes a edifícios multifamiliares e unidades hoteleiras, envolvendo interesses urbanísticos de dezenas de milhões de euros, tramitados em benefício de determinados operadores económicos".